segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Uma Verborragia Egocêntrica

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Você me enxerga como o garotinho popular, à mostra,
Que distribui todos os dias um brilhante sorriso pelas avenidas
E que durante as noites maliciosas lhe envolve com braços lascivos,
Sussurros irônicos e um perfume provocante.
O seu garotinho de perfume doce.
Aquele um, numeral temperamental,
Que descontente por não ser dois,
Parte-se em dois sendo um-mesmo;
Densidades machadianas. O machado de Thor.

O mesmo um, que durante a festa, bêbado,
Tira a camiseta manchada e ri profusamente,
O que inspira desejo e preocupação, necessidade de controle rigoroso.
O um, doce e ingênuo, quase terno
E logo, o um agressivo e impaciente, o prenúncio da tempestade,
Tão vermelho quanto o tinto que tinge sua camisa branca. O um acidental!
O de lábios de mel silvestre, que queimam enquanto alimentam,
O de olhos de ressaca, o Capitú, Capitolino, o um-mesmo. Umbrage.
O cigano oblíquo e dissimulado, como à outra definira o Machado.

O que crava profundamente as unhas nas suas costas
E que quebra o silêncio pavoroso da noite com um gemido.
O que lhe mostra as portas do paraíso e do inferno
E lhe faz acreditar que nenhum dos dois lugares é tão belo assim.
O resquício de embriaguez, a chama violeta.
O purificador. O monstro que mora atrás da porta do porão.
O seu motivo para recear.
O anjo da intemperança, a negação da saciedade.
O um que você enxerga e o muito mais, que seus olhos não podem captar. O que é além-Estige.

O invólucro e o conteúdo, concomitantes.
O jovem e o belo. O magro. O alvo. O desejo de Orfeu.
O despenteado amor.
O melancólico, que termina a festa,
Que não sente a obrigação de ser simpático, o parassimpático.
A inervação vagal, cotidiana. Acetilcolina.
A sua descarga de epinefrina. A septicemia, o choque, o coma.
Uma taça de tinto ainda, um brinde a você. Ao rendez-vous.
Voilá, c'est moi. A porta aberta durante a noite.
O desejo recôndito de vê-lo adentrar.

O que jamais será propriedade, o desfiladeiro medonho: Helm's.
O medo da morte e o terço da vida. A prece. La priére.
O não-mais-virgem. O dissoluto, o desfrutado.
O que sangra, que morde, que ri e que cospe fora. Insanidades.
O seu-apenas. O intocável. O inoportuno visitante de sua alcova.
O arrebol, o silêncio da manhã fria,
Early mornin'.
O britânico, o francês e o andaluz. Saleroso, saleroso.
O que parte e não olha para trás, o regresso não-concretizado,
A soma, a divisão e a multiplicação dos pesares.

O menino jovem, magro, alvo e intransigente.
Le toi de moi. O fim das promessas de eternidade.
Não agradeça. Sem indulgências. Sem lamentos.
O que ameaça partir, o que parte. Tudo o que lhe acompanha. Ido.
O que parte, o que vai e o que nunca volta,
No happy-ending. A desilusão do final feliz. O não-um.
O que tinha esperança de ser e que nunca será.
O derradeiro minuto. Meu sorriso para você.
Minha vida em meu sorriso. Par vous.
Minha-sua vida, deliberadamente entregue. Propriedade sim, agora sim, deliberadamente propriedade.

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Por Raphaël Crone.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Uma Revolta Provisória.

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[ Ne me quitte pas,/ Il faut oublier, tout peut s'oublier,/ Qui s'enfuit déjà./ Oublier le temps des malentendus,/ Et le temps perdu a savoir comment/ Oublier ces heures./ Qui tuaient parfois,/ A coups de pourquoi le coeur du bonheure. ] * [ Jacques Brel ]


[ Não me deixe, não vá embora! ]


Palavras tristes, as mais tristes que um humano fora da sã consciência pode dizer a outro.
Palavras humilhantes, palavras desnecessárias,
Palavras desprovidas de efeito e eficácia.
Fracas, moribundas, agonizantes. Neurastênicas.
O que é finito, finito é.
Que morra e agonize o menor tempo possível,
Não há salvação. Deixe morrer.
E por fim, que se sepulte o cadáver, que se queimem os ossos
E que se chore apenas uma única vez, carpindo aquilo que nenhuma palavra pode de volta trazer.

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Por Raphaël Crone.

Namorinho de Portão.

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Ele olhou o meu rosto absorto,
Enquanto passava pelo portão da minha casa.
Eu apenas fumava compassadamente um cigarro escuro
E contemplava compassadamente a escuridão da rua.
Um encontro de olhares compassados. O descompasso interior.
Uma memória a ser perseguida. Uma hipótese.
Eu entro para dentro de casa e bato a porta por detrás.
Ele se vai.
Uma hipótese, eu disse. Não um fato.
Hipoteticamente não-realizável.

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Por Raphaël Crone.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Poema Por Saudade.

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A dor de ter lhe tido nos braços,
De ter beijado os seus lábios,
De ter tocado sua pele alva e quente,
De ter experimentado o suor dos seus lábios
E de não mais ter-lhe perto.
Saudoso. Saudoso.
Inconformadamente saudoso.

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Por Raphaël Crone.

Lembranças Médias.

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[ - Ela parece distante... / talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
-Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, / e sentiu que eram parecidos.
-Em outros termos, prefere imaginar uma relação / com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
-Ao contrário, / talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela?/ Quem vai pôr ordem? ] * [ Guillaume Laurant & Jean-Pierre Jeunet ]


Imaginações médias, de uma terra distante,
Sensações estranhas, revivências.
Fantasmas em agonia.
O velho caldeirão cozinhando na cozinha mal-coberta.
O cheiro bom do guisado pobre.
A vassoura atrás da porta para espantar visitas indesejadas,
Especialmente os cobradores de soldos.
Os campos por cultivar, verdejantes e eloquentes.
A velha esmoler corcunda e decrépita,
Que perambulava pelos vilarejos vizinhos.
Os vilões, aldeões, camponeses
E suas labutas. As fogueiras.
As mulheres incineradas. A desordem.
Lembranças vagas.
A modernidade. A mesma vassoura atrás da porta.
O caldeirão furado. Outro tempo, outra desordem,
Quem sabe as mesmas, mas com vestidos diferentes.
Sentimentalismos exacerbados e mal-resolvidos,
Que dizem não ao apelo dos velhos encantamentos
E das velhas alcoviteiras.
Uma outra França, além-mar. O mesmo garotinho francês.
Outras inquietudes. Uma nova necessidade,
A mesma velha perturbação interior.
Os casebres queimados pelos cavaleiros,
O dobrar dos sinos, tão cristãos!
Um coração que se dobra, contas a pagar,
A alcova vazia durante a noite fria.
Lembranças médias,
A mesma solicitude de outrora e que amanhã ainda será...

___
Por Raphaël Crone.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Consciência.

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A necessidade de ser agradável me incomoda.
Não sou agradável. Não sou simples. Não sou fácil.
Vovó dizia que sou complicado e trabalhoso.
Sou o espiral e o labirinto,
Ou um simples garoto pretensioso e estúpido.
Às vezes, gostaria de ser de outra forma
(Eis que esta é uma confissão íntima, leitor).

E agora que você, leitor, conhece uma confissão íntima minha,
Encarregue-se você mesmo de me julgar pretensioso ou complicado,
A seu critério, peso e medida.

___
Por Raphaël Crone.

O Não Mais.

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Naquele minuto derradeiro, extraí de seus olhos uma última palavra.
Buscava uma última esperança,
Mas esta definitivamente não me assomou às vistas.
Extraí aquela final palavra muda, não pronunciada,
Porém eloquente e imperiosa por si só.
Extraí o finito, o acabado, o morto.
O fim da paixão e as efemérides do que foi sentimento.
Entendi o não mais tocar e o não mais aproximar-me.
Afigurou-se-me real o fim da intimidade e a não mais posse de você.
Noticiou-se ao meu mundo, aos quatro cantos,
A distância recatada que deveríamos doravante alimentar.
Não mais pertencimento. Não mais reciprocidade,
Se é que esta realmente existiu um dia.
Não mais proximidade, nem promessa de esperança
E nem motivo para acreditar no dia após a noite.
O fim de um mundo. A entrega de minha coroa.
O último acorde da canção, dissonante e tosco.
A volta à realidade, o fim do mergulho,
A superfície. De volta ao básico, nú e pobre,
O encontrar em mim a substância para continuar, a tentativa.
E a decepção, por encontrar-me tão realmente nú e pobre.
Por não julgar-me substancialmente rijo.
Por não poder contentar-me. Pelo descontentamento.
Pelo final, pela derradeira núpcia,
Pelo eu-sozinho, depois de pleno,
Pelo amanhã que não nasceria e que, realmente, não nasceu.

___
Por Raphaël Crone.

Palavras de Marco.

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Ele se importou comigo.

[ Se a lan house estiver aberta à noite,
Eu entro pra falar com você.
Pra você não passar o Natal sozinho. ]

Tudo bem, amor, eu lhe agradeço,
E mesmo que eu não saiba como lhe mostrar isso,
Você me é imprescindível.
Você é a corda que faz vibrar o meu coração.

___
Por Raphaël Crone.

Uma Minha Necessidade.

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A dor que você me causou não morre.
Ela adormece, languidamente, embalada pelas distrações cotidianas.
Quando a noite cai, qual leoa, ela acorda
E me noticia sua ilustre presença indesejada.
Ela não morre, deveras eterna. Maldita.
Por vezes, entre o sono, ela me oprime o peito,
Me faz temer estar acordado.
Modos de noticiar sua presença.

Quando eu me lembro dos beijos doces e olhares afáveis,
Da forma infantil como falavas comigo no nosso infinito silêncio,
Quando recordo nossa cumplicidade e eterna ternura,
Ela ameaça despedaçar-me, impiedosa.
Torna-se tão pungente que penso ser insuportável
E neste momento eu desejo jamais ter deixado de ser criança.
Eu lamento a perda da inocência,
Lamento a inexprimível vontade recôndita de lhe ser novamente
E adormeço em meio a uma triste balada baldada de amor.

___
Por Raphaël Crone.

Concerto de Raphaël.

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{ Ou ainda [ Quando Vovó Me Sentava ao Piano ] . }


Dedilho naquele velho piano uma canção triste.
Um tom agudo e um tom grave. Ma jeunesse.
A estranha juventude que é exalada de sons caducos,
Momento impressivo.
Não me importo em nomear compositores,
Importo-me em retirar daquele velho caduco pedaço de madeira oca uma canção triste.
Uma valsa lacrimejante. Uma taça de champagne.
Uma apogiatura singela, um acorde sonoro.
Um som que imite um lamento, um soluço,
Um som que seja úmido como minha lágrima,
Que seja rijo como minha tristeza
E que seja inconsistente como meu coração.

___
Por Raphaël Crone.

Por Explicação.

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{ Ou ainda [ Um Francesinho que Sofre ] . }



Esta melancolia que me acompanha.
Esta estranheza, esta profundidade.
Esta inquietude, esta solicitude,
Solidão. Soledad, mamá.
Salut vous.
Este desejo incontido, que me extravasa pelos olhos,
Esta dor cruciante que lhe afasta de mim e faz-lhe detestar-me,
Esta incompreensão. Lânguido perjurio.
Esta insistência em estar triste, mesmo quando não há motivos.
Esta necessidade de me afastar.
Recolher-me em mim mesmo, como em um útero improvisado.
Não encontro proteção em meus braços.
Não há promessa de eternidade em meu regaço,
Não há promessa de conforto e nem de consolo.
Não há feridas em minhas mãos, não sou salvador.
Esta estranha mania de estar sozinho,
Mesmo quando não me acho suficientemente companheiro.
Esta devassidão que lhe emporcalha a lembrança.
Esta necessidade imperiosa de voltar à superfície em busca de ar,
Deixando por um minuto o mundo submerso onde existo.
A necessidade de lhe enganar com o meu sorriso,
De lhe acalmar com meu o toque dos meus dedos,
De lhe impressionar com minha sabedoria insípida e inútil
E de lhe empurrar fora, como um prato onde sobeja o vazio.
Esta inquietude, esta solicitude.
Esta estranha mania, este garoto estranho.
Um francesinho, que sofre mais que os outros,
Nem que seja por submissa vontade estranha.
Estranho desejo irresistível.

___
Por Raphaël Crone.

Le fabuleux destin du Raphaël Poulain.

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Eu lhe beijo como a Amélie o faria,
Tão igual eu sou a ela.
Decobri isso hoje, embora suspeitasse-o há 23 anos.
Jeunet pintou-me bem num cinema alternativo.
Beijo-lhe enquanto a porta é cerrada por detrás de nós.
Beijo-lhe com meus olhos castos e medrosos.
Beijo-lhe o canto dos lábios e a nuca sussurrante.
Beijo-lhe em cada um dos olhos, suavemente.
Beijo-lhe a testa, em sinal de respeito e submissão,
Enquanto as lágrimas começam a me rolar face afora.
E por fim, beija-me os lábios,
Num prenúncio de eternidade medida,
Num prenúncio de felicidade espantada,
Num prenúncio de vida que ainda existe aqui, cá dentro.

___
Por Raphaël Crone.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ella, Mamá.

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[ Bem, eu amo o modo com que nos comunicamos,/ Seus olhos focalizam em minha hilariante forma labial./ Ouçamos o que você pensa agora de mim, / Mas baby, não olhe,/ O céu está caindo. ] * [ Tori Amos ]



Me lembro quando eu era pequenininho,
Ella segurava a minha mão quando andávamos na rua
E eu costumava me sentar no colo della,
Tão leve!
De repente, percebi que ella começou a encolher,
A ficar menor e menor...
Não entendia o porquê disso, não,
Só achava engraçado.
Hoje sei que quem cresceu fui eu,
Mamãe é baixinha mesmo, e eu grandão.
Ainda me sento no colo della,
Devagarinho, não colocando muito peso em suas pernas cansadas,
E nós ainda rimos, nos lembrando do que passado é.
Ella me ouve, ella cuida de mim,
E eu ouço e cuido della.
Ella só não me entende muito bem, me disse certa vez,
E eu acho que entendo um pouco menos della do que eu gostaria.
Mas aí justamente está a graça do nosso amor:
Ella decide me amar assim mesmo,
Integral e incondicionalmente,
E eu decido amar ella também.

___
Por Raphaël Crone.

Voto Quebrado.

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[ Eu nunca amei ninguém completamente,/ Sempre mantive um dos pés no chão./ E por proteger de verdade meu coração,/ Eu me perdi nesses sons. Eu ouço em minha mente/ Todas essas vozes,/ Eu ouço em minha mente todas essas palavras,/ Eu ouço em minha mente toda essa música./ E isso parte meu coração,/ E isso parte meu coração. ] * [ Regina Spektor ]



Não penso hoje que seja realmente importante eu continuar a pensar em você,
Embora eu, teimoso, ainda teime em fazê-lo no escuro da noite.
Não penso que eu não mais possa viver sem o seu abraço,
Ainda que me seja custoso pensar assim.
Forçoso me é prosseguir, forçoso me é,
E isto parte o meu coração.

Por isto, dei a outro os nossos versos,
Aqueles com os quais você tão apaixonadamente me presenteou.
Prostutuí os nossos momentos mais singelos,
Nosso piano mais terno,
Nossa canção mais secreta.
Dei-a a outro que a merecesse, de certa forma.

Me cansei de tudo suportar, de tudo esperar,
De continuar esmigalhando o meu peito.
Não que isso não mais parta o meu coração,
Mas como você e eu bem sabemos,
Males necessários existem,
Para mim e para você.

[ Porque deixo esta forma ínfima de matéria humana
E me faço lembranças,
Para encontra-me contigo nas ruas labirínticas
de um tal lugar
. ]
Palavras tuas para mim. Por minhas mãos, de outro agora.
Sinto muito, isto ainda parte o meu coração,
Durante a hora mais escura da noite, acredite, isto ainda parte o meu coração.

___
Por Raphaël Crone.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Canção de Elvis.

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[ Eu apenas acordei de um sonho confuso./ Você nunca iria acreditar naquelas coisas que eu tinha visto./ Eu olhei no espelho e vi o seu rosto./ Você olhou exatamente para mim,/ você estava a milhas de distância.../ Você sempre me ama mais,/ Milhas de distância./ Eu ouvi isso na sua voz,/ Estamos a milhas de distância./ Você não tem medo de me dizer,/ Eu acho que estamos no nosso melhor,/ Estamos a milhas de distância./ Tão longe... ] * [ Madonna ]


Eu lhe reencontrei naquela noite vazia,
No meio de um milhão de pessoas,
No meio da batida eletrônica que inundava o ar,
No meio de uma jornada milenar.
Sábado à noite, dois anos sem nos ver.
Tão lindo, ainda!
Um abraço terno, palavras doces,
Milhas de distância rompidas por um beijo.

Enquanto dançávamos, eu sentia o turbilhão de sons
E tudo era apenas nós dois em meio a um silêncio bento.
Enquanto eu tirava a minha camisa
E você tocava o meu corpo alvo,
Eu podia sentir o êxtase religioso, vertiginoso,
Algo como estar voltando à vida.
Estávamos tão longe, tão longe!
E em um minuto tão próximos novamente.

Um momento sexual, frenético, compulsivo.
O enlace de meu corpo junto ao seu,
O movimento de meus lábios e minha língua junto à sua,
O toque de nossas mãos.
Eu fui você!
Um apaixonante reencontro casual,
Uma providência, uma providência.
Você me fez esquecer de mim por uma vida.
Milhas de distância.

Por fim, a manhã trouxe-nos de volta.
Eu me despedi apressadamente enquanto corria para tomar a condução.
Você seguiu, descendo a avenida, sem olhar para trás,
Depois de eu ter beijado outra pessoa no fim da festa.
Mas não mais tão longe.
Tão mais perto de mim! Uma luz tão pura!
O êxtase. O deus. O sentimento.
Amei-lhe naquela noite. Um amor lindo!
Nenhuma milha poderá apagar.

Nunca tão longe. No far away.

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Por Raphaël Crone.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Enfado.

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[ Solução melhor é não enlouquecer / mais do que já enlouquecemos,/ não tanto por virtude, mas por cálculo. / Controlar essa loucura razoável:/ se formos razoavelmente loucos, não precisaremos desses sanatórios, / porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura./ O jeito é se virar em casa mesmo, / sem testemunhas estranhas./ Sem despesas. ] * [ Lygia Fagundes Teles ]



Hoje recebi a minha carteira de inscrição profissional.
Mais uma série de números para a minha coleção.
RG, CPF, RA, PIS-PASEP.
Eu, numerário.
Temerário numerário ambulante.

___
Por Raphaël Crone.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Desencanto.

[ Não tenho tempo pra mais nada./ Ser feliz me consome muito. ] * [ Clarice Lispector ]


Desculpe-me, leitor.
Não há muitas palavras neste dia.
Apenas outro poema triste.
Apenas outra flor artificial no meu jardim japonês.
Apenas outro dia artificialmente doce para mim.

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Por Raphaël Crone.

Recaída.


[ Ela mora com um homem quebrado/ Um homem de poliestireno rachado, que só se desmorona e se queima./ Ele costumava fazer cirurgias para garotas nos anos 80,/ Mas a gravidade sempre vence./ Isto o desgasta, isto o desgasta... ] * [ Radiohead ]


Por mais que eu seja categórico em dizer aos meus amigos que lhe esqueci e não lhe amo mais, é impossível não me entristecer quando deito minha cabeça no travesseiro.
Já se passou um bom tempo, mas quando o Thom Yorke canta Fake Plastic Trees para mim, é impossível não recair em você.
Que posso eu fazer?

_____
Por Raphaël Crone.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Darwin-Trance.

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[ Adaptação para as plantas deveser fácil,/ elas não têm memória./ Mas para os humanos é quase imoral,/ é como simplesmente fugir. ] * [Charlie Kaufman ]
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[ Este é o meu problema:/ tenho amores despreocupados./ E aquilo era tudo o que eu queria:/ me preocupar apaixonadamente com alguma coisa./ Eu estou começando a entender/ que quando você se dedica apaixonadamente a apenas uma coisa, / a vida parece tornar-se mais controlável. ] * [Charlie Kaufman ]
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[ A vida estava cheia de coisas/ que se pareciam com aquela
fantástica orquídea-fantasma:/ difíceis de se imaginar, fáceis de se apaixonar,/ mas fantásticas demais,/ fulgazes demais e / inalcançáveis. ] * [Charlie Kaufman ]


Uma gota que cai no meio do gigantesco oceano frio.
Um peixe que nada desesperadamente,
Apenas para protelar a cena de ver-se engolido por outro peixe maior.
O filhote de mamífero que vê-se trucidado sob os dentes do leão.
Répteis que arrastam-se pelo submundo terrestre, longe dos excessos climáticos.
Outra gota que cai no meio do gigantesco oceano frio.
Mais uma. E mais outra. E outra e outra.
Os pássaros pretos da noite e os ratos do sótão.
O monstro do porão sujo.
Imaginações de Darwin. Ou minhas, por que não?
Cenas vampirescas, licantrópicas, folk-lore.
Cenas fisiológicas e anatômicas.
Adaptação. Evolução. O Darwin hipnótico.
Minha janela, que recebe a chuva vinda do oceano.
Meu sótão, infestado por ratos barulhentos.
Meu monstro e meu porão sujo.
Meu eu, metamorphosis. Darwin-trance.
Minha transformação. Minha viagem pela Terra-Média.
Meu desejo evoluído:
Calor e comida e procriação e amparo e paixão e? (...)
Outro desejo não-descoberto.
Apenas a vontade de me apaixonar perdidamente por algo neste mundo.
De me entregar perdidamente a algo neste mundo.
De não mentir à vida depois que a adaptação chegar
E quando ela se for, não negar a metamorfose que ela operou em mim.
Mero ciclo ininterrupto,
Ópio, ecstasy, além da imaginação.
Mera borboleta errante, de vida efêmera.
Mero eu, metamórfico, hipnótico, experimental.

[ Hey, I'd like to put you in a trance... ]

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Por Raphaël Crone.

domingo, 30 de novembro de 2008

Fim de Novembro.

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[ A coisa mais fina do mundo/ é o sentimento. ] * [ Adélia Prado ]



R: -Nossa,
Como as coisas são engraçadas, não?
Pessoas que aparecem quando a gente menos espera
E mais precisa!
Nada como a tal da amizade!
G: -Mas a vida é assim mesmo.
Bem desse jeito!
O tipo de coisa que acontece!
R: -Essa é a graça da vida!
G: -Exactus!

[ NOTA 1: ] *Palavras ditas ao som de Apparat e Radiohead.
[ NOTA 2: ] * Poema diálogo, de indizível valor pessoal.
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Por Gustavo Füsca e Raphaël Crone.

À Uma Batida Frenética.

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[ Isto nos faz sentir tão bem!/ Estarmos aonde não deveríamos,/ Em um amor que não nos pertence!/ Perigo, perigo,/ Me dê o perigo! ] * [ Mike Furey ]


Eis que eu escuto este movimento, it takes over me!
Necessário, perigoso, quase violento!
Uma droga radiofônica,
O ecstasy audiológico!
Sinto-me voltando de uma longa jornada do país do desejo da morte,
De um sono infinito, de um sono quase medicamentoso!
A sua bênção, batida aterradoramente eletrônica!
Neste momento, até mesmo o meu eu alternativo se rende a você!
Porque sinto-lhe puxar de volta à vida o meu eu dormente,
Latente, hipnotizado,
Amargurado, ressentido, triste e cabisbaixo.
Cego, surdo e mudo, abandonado.
Sinto-me o som do pássaro!
Sinto-me jovem e belo, adolescente e frenético,
Sinto-me vivo, lúcido, sóbrio e são.
Sim, definitivamente, de volta à vida.

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Por Raphaël Crone.

Crianças da Revolução.

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[ Pouco antes de nosso amor se perder, você disse:/"Sou tão constante quanto uma estrela do norte."/ E eu disse, sempre na escuridão:/ "Onde isso vai levar?/ Se você me quiser, eu estarei no bar..."/ Oh, você está em meu sangue como o vinho sagrado,/ Você parece tão doce e tão amargo!/ Oh, eu poderia beber um barril de você, querido/ E eu ainda estaria em pé,/ Oh, eu ainda estaria em pé... ] * [ Joni Mitchell ]


Você fez de mim uma das crianças da revolução.
Uma daquelas que, por tanto acreditar,
Não sabem mais em que direção seguir.
Uma daquelas que, por tanto acreditar,
Desenvolvem o excepcional talento de não acreditar, acreditando.
Você fez de mim uma das crianças da revolução,
Vorazes, impetuosas e frágeis,
Frágeis como a bruma, que se desvanece à luz do sol matutino.
Uma daquelas crianças que dormem embaladas por alguma música melancólica,
Com uma garrafa semi-vazia encima da mesinha de cabeceira,
Um cinzeiro cheio de pó em um canto da cama
E o livro de algum filósofo estúpido no regaço,
Buscando nele algum estúpido fundamento infundado.
Uma das crianças da revolução,
Das capazes de varrer o país com a guerra,
Mas incapazes de varrer seus próprios conflitos íntimos,
Sua própria embriaguez moral,
Sua própria França interior.

___
Por Raphaël Crone.

Sado - Vol. 2.

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[ Tous les jours des fêtes,/ Oui c'est excentrique./ Je dis: "Vive la fête!"/ Pour etre héroïque. ] * [ Els Pynoo ]



Tre' bien. 120 dias em Sodoma com Sade.
Deve ser divertido!
Viva a festa, mon garçon!
O que pode haver de mais excitante na vida
Do que 120 dias em Sodoma com Sade?

___
Por Raphaël Crone.

Uma Nova Supernova.

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[ Você pode expressar as suas verdades mais profundas,/ E mesmo que isso signifique que eu vou lhe perder,/ Eu vou ouvi-las./ Você pode cair num abismo/ No seu percurso pela felicidade/ E eu vou simpatizar com isso./ Você pode me dizer que vai deixar a cidade / Em busca da paixão de sua vida/ E eu vou ouvi-lo./ Você pode mesmo se jogar no fundo do poço/ Em uma crise de meia-idade e eu vou suportar isso./ Não há mais laços que nos liguem.../ Você não me deve nada / Por eu ter lhe dado o amor que eu lhe dei,/ Você não me deve nada/ Por eu ter me importado como eu fiz./ Sou eu quem lhe agradece por ter-me recebido,/ É meu privilégio/ E você não me deve nada em troca. ] * [ Alanis Morissette ]



Nenhuma cobrança, nenhum ressentimento.
Rugas? Para que, se eu sou tão jovem e tão belo?
Quem cresceu fui eu. Quem amou fui eu.
Quem se importou fui eu.
Eu saí maior e mais forte, mais nobre.
Aos meus braços, novos amores.
Mais nobres. Mais fortes.
Mais arrebatadores.
Como sempre, ela bem me aconselha, ma chère.
Você realmente não me deve nada em troca
E eu lhe agradeço, no final.

___
Por Raphaël Crone.

Sensualidade Provisória.

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[ Não, não tente se desculpar,/ Não volte a insistir,/ As desculpas já existiam antes de você./ Não, não me olhe como antes,/ Não fale no plural,/ A retórica é sua arma mais letal./ Vou te pedir que não volte mais,/ Sinto que você ainda me causa dor aqui, por dentro/ E que na sua idade já sabia bem o que é/ Partir o coração de alguém assim... ] * [ Shakira ]



É a minha sensualidade provisória,
Meu encanto passageiro,
Que nao pôde segurar-lhe em meus braços,
Assim como acontece num happy-end de cinema.
Meu sorriso, que não foi doce o bastante,
Minha impetuosidade, que não foi comedida o suficiente,
Meu amor, não tão convincente.
Que posso eu fazer mais, se fiz o melhor de mim?
Este sou eu, nada mais e nada menos.
Eu, meu amor insuficiente
E minha sensualidade insuficiente,
Nada mais que provisória para você.

___
Por Raphaël Crone.

sábado, 29 de novembro de 2008

Violência.

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[ Desde que eu me encontrei com você,/ Esta cidade pequena não conseguiu quarto/ Para meus sentimentos grandes./ Violentamente feliz por te amar,/ Violentamente feliz,/ Mas você não está aqui. ] * [ Björk ]


Tenho bebido demasiadamente nos últimos dias,
Tenho tido dificuldades para escrever.
Este poema, escrevo-o bêbado.
Ironicamente bêbado.
Furtivas taças de vinho, graciosos momentos de descontração,
Profundos motivos incógnitos.
Não consigo escrever mais por agora.
Tenho bebido demasiadamente nos últimos dias.

___
Por Raphaël Crone.

Confissão Noturna.

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[ Eu me machuco facilmente,/ então seja gentil ao lidar comigo. ] * [ Natasha Bedingfield ]



Posso parecer radiante e independente.
E posso ser assim, quando quero assim ser.
Posso demonstrar total segurança e auto-controle,
Ou um descontrole devastador.
Posso ser um corpo em chamas
Ou um coração ardente e eterno.
Posso ser brilhante como o dia,
Ou escuro, como o breu da noite.
Eu posso ser o que quiser.

Mas a única coisa que você tem que saber, amor meu,
É que eu me machuco facilmente.
Que meu sorriso pode esconder meu desencanto.
Que meu silêncio pode traduzir minha tristeza
E que meu olhar vazio pode expressar a minha solidão.
Eu me machuco facilmente,
Então seja gentil com seu príncipe-menino.
Seja paciente e tolerante.
Seja bom, como ninguém mais, para mim.

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Por Raphaël Crone.

Versos Sujos.

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[ Você pode me tocar se quiser,/ Mas você não pode parar. ] * [ Shirley Manson ]


Em minha pele jovem, o desespero.
O frenesi, a necessidade, a ânsia
Por uma possessão pervertida e absoluta.
Inimaginável.
Por seus braços pervertidos e absolutos,
Em todas as formas, em todos os sentidos,
Inimaginavelmente.

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Por Raphaël Crone

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dangereux.

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[ Viver é muito perigoso. ] * [ Guimarães Rosa ]
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[ Minha força está na solidão. / Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, / nem de grandes ventanias soltas, / pois eu também sou o escuro da noite. ] * [ Clarice Lispector ]



Eis que, de repente, tudo se afigura real:
A ironia da vida em me amar
E sua insistência em me abraçar
Com os braços frouxos.

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Por Raphaël Crone.

Minha Onipotência.

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[ Eu sou um caminho de cinzas,/ Queimando debaixo de seus pés./ Você é o único que caminha sobre mim/ E eu sou o seu único caminho. ] * [ Björk ]
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[ Felicidade se acha em horinhas de descuido. ] * [ Guimarães Rosa ]


Quem é assim, você pode me dizer?
Incondicional como eu? Apaixonante e apaixonado?
Quem tem um sorriso mais belo que o meu e lábios mais macios?
Quem lhe toca com as pontas dos dedos
E lhe proporciona tamanha excitação mental?
Quem tolera os seus desgostos e as suas amarguras
E continua sendo como eu sou?
Quem lhe deixa e retorna sempre,
Respeitando as suas excentricidades e os seus desatinos?
Quem lhe ama, brutal e docemente,
Como dedicado pajem e violento criminoso?
Quem é assim?
Quem faz o seu coração triunfar?
Exército de mim, o caçador.
O deus do vinho. Do sono. Dos profundos oceanos.
Quem é como eu?
Que chora a sua partida e aguarda o seu improvável retorno,
Esperançoso e sem deixar de sorrir?
Você sente isso em mim?
Incondicionalidade? Motivação?
Exagerado zelo, cuidado dilacerante?
Pois bem, saiba,
Apenas eu sou assim por você.
No pouco e no muito, na bonança e na miséria,
Exageradamente seu.
Enveneno-me com seu amor a cada dia,
Apenas para não morrer sentindo a sua falta.
Apenas para viver, desta forma, sem respirar.

___
Por Raphaël Crone.

Goldfrapp Cantaria.

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[ O uísque é o melhor amigo do homem. / É o cachorro engarrafado. ] * [ Vinícius de Morais ]



Você e sua ironia,
Eu e meu copo semi-vazio,
Uma dupla peculiar.
Quando me enrosco em seu pescoço
E respiro a sua pele acetinada,
Sinto a sua frialdade mórbida.
Nada como o meu calor alcoólico para lhe aquecer.
Fatalmente,
Uma dupla peculiar.

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Por Raphaël Crone.

Efemérides.

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[ Você tem olhos que me conduzem/ E um corpo que me mostra a morte;/ Seus lábios parecem que foram feitos pra algo mais,/ Mas eles apenas sugam minha respiração./ Eu quero a sua dor para saborear
o porquê de você estar envergonhado./ Eu sei que você não é apenas o que me diz/ E eu não sou o único momento do qual você é feito./ Você é tão súbito e doce,/ Todas as pernas, articulações, joelhos./ Cabeça fundida limpa, sua boca é paga./ Me foda até sabermos que é não é mais seguro/ E então nós passaremos por cima das evidências. ] * [ Marilyn Manson ]


Sob a chuva quente de verão,
Sentado sob uma árvore imponente,
Eu vejo os raios riscarem o céu como flechas incandescentes.
Eu olho para cima, vejo as folhas gotejantes.
Penso por um minuto,
Lanço os olhos em torno do enorme descampado à minha frente
E me deito na grama molhada, sem camisa.
Se eu tiver alguma sorte,
Quem sabe hoje.
Quem sabe.

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Por Raphaël Crone.

Uma Recordação Minha.

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[ Se deus fulmina os erros da ternura,/ Uma lágrima só lhe apaga o raio. ] * [ Manuel du Bocage ]
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[ Mas alguém me disse que você ainda me ama,/ Será isto possível? ] * [ Carla Bruni ]


Como Julianne Moore em "As Horas",
Chorei quando lhe dei as costas naquela rodoviária,
Após um abraço terno e um sussurro terno
E não olhei pra trás quando você subiu naquele ônibus velho.
Chorei durante todo o caminho pra casa,
4 da tarde, ruas cheias;
Resolvi tomar um banho longo
E mal via que o sabonete dissolvia-se por ação da água que teimava em cair do chuveiro,
Enquanto eu, convulsivamente, chorava deitado no chão do banheiro.

Chorei a sua partida, com uma dor tão vívida
Que me sentia faltar o ar, era difícil respirar.
Chorei a sua partida,
Chorei a parte de mim que ia contigo,
Mas a parte de vocêzinho que ficou comigo, então, me consolou.
Me consolaram Maria Callas e Edith Piaf,
Borges, Drexler, Camille,
Fui consolado pela torrente violenta que banhava meu coração de lembranças,
E que me fazia enxergar-lhe em toda parte;
Fui consolado por "Non, je ne regrette rien".

Apenas um menino lindo", palavras suas;
De fato você me faz sentir um menino lindo,
Como é linda a homenagem que a Carla Bruni me faz através do seu amor;
Amor, enquanto nós bebíamos e conversavámos naquele bar da praça matriz de cidade do interior,
Amor, denunciado por nossos beijos nas ruelas escuras,
Amor em francês, em espanhol,
Amor latino-americano.
Amor, enquanto eu lhe assistia dissertar na faculdade
E você me assistia lecionar, após a chuva;
Amor, em tardes quentes e companheiras;
Amor, enquanto faxinávamos a casa,
Enquanto aprendíamos a lavar roupa,
Enquanto conversávamos à toa na janela da vizinha.

Amor, enquanto você deitava no meu colo naquela pracinha
E nós chorávamos como crianças,
Apenas por causa desse tal de amor,
Que justifica todas as dores e prazeres de nossas existências;
Amor, em madrugadas longas,
Enquanto acompanhavámos um ao outro de volta pra casa,
Amor musical e poético,
Amor sentimental.
Amor, como o que a Adélia Prado tem pelo Zé e seu fusquinha,
Amor camarada e bom,
Amor amável;
"Te amo, homi", a Adélia dizia pro Zé; e eu lhe amo.
Mesmo sabendo que sem você, este lugar é como Londres,
Chove todos os dias
E que eu sou apenas metade de um corpo, sem o seu abraço.

Amor, que sabe que semana que vem a gente está junto de novo,
E que toda a choradeira foi porque eu não queria ficar nem um dia sem lhe ver;
Amor, que eu enxerguei no fundo dos seus olhos,
Amor mais amplo que palavras,
Amor romântico e revolucionário,
De mãos dadas na praça;
Amor, que me faz esquecer de mim mesmo,
Apenas pra lhe ver feliz, como você me faz feliz,
Amor acordado, amor dormindo, amor de todo quanto é jeito;
A Julieta tem mesmo razão, lhe quero com limão e sal,
Lhe quero falante ou não, lhe quero e lhe tenho
E você me tem também,
Um menino que chora na rodoviária e que lhe ama cada momento mais;
Que adotou a bermuda que você lhe deu como um uniforme,
E que alegremente espera por você,
Como Penélope esperava por Ulisses naquela praia.

[ Minha mãe cozinhava exatamente: arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava. ]


Sou eu quem lhe agradece, amor.
Ton garçon, qui t'aime beaucoup et toujours.
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Por Raphaël Crone.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Costumeiramente Você.

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[ Eu culpo a todas as pessoas, menos a mim mesma/ Minha agressividade passiva pode ser devastadora./ Eu sou assustada e desconfiada/ E você nunca conheceu ninguém tão fechada/ Como eu posso ser, às vezes./ Você enxerga tudo, você enxerga cada detalhe./ Você enxerga toda minha luz/ E você ama toda a minha escuridão./ Você sabe tudo que me deixa envergonhada./ Não há nada em mim que você não conheça/ E você continua aqui. ] * [ Alanis Morissette ]

Tão sábio e incrivelmente, tão jovem.
Me encontrou num momento tão triste
E se mostrou tão presente.
De tão fraco me fez tão forte.
De tão só me fez tão pleno.
Tão esperançoso. Honestamente bom.
Você tem sido mais que eu tenho sido
E ainda assim,
Tem sido, apenas e costumeiramente,
Você.

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Por Raphaël Crone.

Uma Pequena Odisséia


[ O amor eterno é o amor impossível./ Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam. ] * [ Eça de Queiróz ]


[ Inconsistência de uma atitude poética,
Ou como quiserdes, nomeai. ]

Eu rastejo, rastros no chão.
Escalo as ruínas da antiga catedral.
Gotas de sangue escorrem das mãos.
Quando chego lá no topo,
Observo a face do vento
E te vejo desaparecer com ela, enfim.

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Por Raphaël Crone.

Um Amor Bombástico.


[ Eu quero beijar você em Paris,/ Eu quero segurar sua mão em Roma,/ Eu quero correr nua em uma tempestade,/ Fazer amor em um trem através dos campos,/ Você pôs isso em mim./ E agora? E agora?/ Quero, preciso, espero/ Por você para justificar meu amor./ Esperando, rezando/ Por você para justificar meu amor. ] * [ Madonna ]



Um amor bombástico.
Pernas, seios, mãos, lábios em efervescência.
É assim que nós funcionamos.
Bombasticamente.
Causando furor e frisson.
Uma profusão de eloquência,
Nenhum relato verbal.
É assim que eu funciono.
Bombasticamente.

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Por Raphaël Crone.

Uma Subversão Estética.


[ É hipócrita as pessoas ricas se vestirem como as pobres. ] * [ Vivienne Westwood ]


Me dê um fio do tecido da tua blusa.
Ma douleur. Me dê.
Imperiosamente eu lhe peço: agora.
Maravilhe-se,
Mendigo-chic. Fashion beggar.
Minha calça rasgada e desfiada,
Minha camiseta branca amarrotada e manchada,
Meus cabelos desalinhados,
Óculos retrôs,
Cuia de retrós. Bandós.
Chinelas rotas, pés alvos,
Podóloga e pedicure.
Ser mendigo, hoje, não é para qualquer um, chère.

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Por Raphaël Crone.

Honestamente Ok


[ A vida é como um sonho:/ é o acordar que nos mata. ] * [ Virginia Woolf ]
[ Eu só quero me sentir bem na minha própria pele,/ Eu só quero ser feliz de novo./ Eu só quero me sentir profunda no meu próprio mundo,/ Mas eu estou tão solitária,/ Que nem quero mais ser eu mesma. ] * [ Dido Armstrong ]


Eu ando pela minha casa,
Copo de café na mão,
Cigarro queimando entre os meus dedos,
Absorto e inconstante.
Eu tento me lembrar dos planos que eu fiz,
Mas a memória teima em não me obedecer.
Sinto o cheiro do incenso, que queima num canto da sala.
Feng-chui. Chinatown francesa.
Eu ando da cozinha para a sala
E da sala para o quarto.
Do quarto para o hall e do hall para a varanda.
Desassossego.
Desencontro interior. Saudades tuas.
Eu queria me lembrar de como eu era,
Mas eu era tão mais triste!
Por isso a tua lembrança morta ainda me mantem vivo.
Contraste sombrio.
A lembrança do teu abraço e do teu sorriso,
Hoje desprovida do antigo desejo de possessão.
Eu bebo o cigarro e fumo o café.
Me embriago de lucidez,
Para me perder embriagado durante a noite.
Meus dias sem mim.
A batida que ecoa e eu insisto em não ouvir.
A insustentável necessidade de desapego.
Minha insustentável vida,
E nenhum final.


____
Por Raphaël Crone.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Do Quase Se Acabando.

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[ Non, rien de rien!/ Non, je ne regrette rien!/ Ni le bien quon m'a fait,/ Ni le mal,/ Tu ça mest bien égal!/ Non, rien de rien!/ Non, je ne regrette rien!/ C'est payé, balayé, oublié,/ Je me fous du passé!/ Avec me souvenirs,/ Jâ'ai allumé le feu,/ Mes chagrins, mes plaisirs,/ Je nai plus besoins deux!/ Balayé les amours,/ Avec leurs trémolos!/ Balayé pour toujours,/Et repars à zéro! ] * [ Edith Piaf ]


Eu já não lamento mais, igualmente.
Não lamento o tremor dos meus pés na frialdade da noite,
Nem a dissolução de minhas alcovas.
Não lamento minha infância solitária
E nem as decepções que sofri durante a vida.
Não me importo, absolutamente,
Não me importo com as lágrimas que derramei
E nem com as que hei de derramar,
Quando necessário for.
Não lamento o olvido e o desprezo,
Sina dos homens.
Não lamento a notoriedade.
Não lamento o não teres me amado,
E mais, não lamento o me odiares agora.
Não lamento a falta de compreensão e nem a sabedoria obscena.
Não faz-me falta o silêncio e nem a histeria.
O álcool me é indiferente,
A canção, que se me cale,
O sofrimento, que aperte ou desapareça.
Tudo me dá igual,
Como viver comigo ou sem mim dá no mesmo a ti.
Não mais lamento a árvore que tombou para ser o assoalho que piso,
E nem o coelho que abatido foi para me servir de guisado.
Não lamento as chagas do indigente,
Nem o coração ferido da donzela.
Nada, absolutamente nada.
Não lamento o medo da morte,
Como há muito deixei de lamentar o medo da solidão.
É inútil, é uma luta baldada,
Uma luta que se trava sozinho é uma luta vã.
E contar com os esforços alheios torna a minha luta infundada, também.
Tudo passou, a juventude, o brilho, as eternas esperanças
E eu já não lamento mais.
Nem as lembranças dos campos e regatos pueris,
Nem os excessos de homem jovem,
Nem a frieza de homem feito,
Nem as fraquezas de homem que não chegou a ser velho.
Absolutamente nada.
Nem as memórias, nem o esquecimento.
O embotamento e o desespero.
O pensamento que me começa a não obedecer.
Edith já disse uma vez:

[ Mulheres, amem. Donzelas, amem.
Crianças, amem. ]


No mais, que me resta dizer, então?
Que nada me importa agora, talvez.
Que os esforços foram feitos, as cartas lançadas,
As messes colhidas
E no mais, tudo me é igual,
Absolutamente.
E nada me resta lamentar, afinal.

___
Por Raphaël Crone

V&R

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[ Liberdade é pouco. / O que eu desejo ainda não tem nome. ] * [ Clarice Lispector ]


 



Eu adoro a forma como você se preocupa com o seu cabelo,
E mais ainda, eu adoro bagunçá-lo.
Adoro as músicas que você canta (principalmente as em francês).
Adoro passear com você nestas tardes quentes de Cáceres,
Tomar banho de rio, andar de bicicleta.
Adoro ir à banca de revistas e cantar com você.
Adoro as historias que você me conta
E a forma como me faz sorrir quando faz cara de bravo.
Adoro quando vamos ao cinema, você dá graça aos filmes.
Gosto até da sua mudança de humor.
É verdade!
Senhor Katz, me concede esta dança?

[ FOTO: ] *Rafah & Vick - Novembro/ 2008.

___
Por Victória Kemper.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Minha Urgência.

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[ Me conte mentiras, bata na minha cara, / Mas improvise, faça alguma coisa diferente,/ Algo que vá me fazer odiar seu nome pra sempre. ] * [ Shakira ]


Cada palavra que minha boca profere é uma necessidade.
Uma urgente necessidade de atenção, de movimento e de um chão para pisar.

___
Por Raphaël Crone.

Chanson Triste.

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[ Corra, meu querido, corra, / Meu querido, corra!/ Corra do barulho da rua e da arma carregada./ Tarde demais para achar soluções no pôr-do-sol./ Assim. corra, meu querido, / Corra, meu querido, corra... ] * [ Shirley Manson ]



Existem pessoas que acreditam no que podem acreditar. Viver correndo se torna realmente um bom negócio, então.

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Por Raphaël Crone.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Citação: Os Velhos Caminhos.

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[ Na noite escura de Ano Novo,/ Na costa oeste de Clare,/Eu ouvi a sua voz cantando./ Seus olhos dançaram a canção,/ Suas mãos tocaram a melodia,/ Era como uma visão perante mim./ Nós sentimos a música interior e a canção nos conduziu./ Roubamos para nós a margens do oceano,/ Respiramos o aroma da água salgada,/ Sentimos o vento em nossos cabelos/ E com tristeza você hesitou:/ De repente, eu soube que você precisava partir,/ O meu mundo não foi o seu,/ Seus olhos me disseram, então./Eu posso sentir esta cena ainda agora,/ Nas encruzilhadas do tempo/ E eu me pergunto porquê... ] * [ Loreena McKennitt ]
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Por Raphaël Crone.

Uma Questão de Ordem Natural

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[ O tu vem antes do eu. ] * [ Friederich Nietzsche ]


Mesmo que eu me refugiasse na mais longínqua colina de Góndor, ou no mais profundo dos abismos de Rohan e mesmo que eu fosse o único restante e você nada fosse mais,
O teu tu ainda viria antes do meu eu.

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Por Raphaël Crone.

Percepção de Minuto.


[ Tem dias que a gente se sente/ Como quem partiu ou morreu,/ A gente estancou de repente/ Ou foi o mundo então que cresceu. ] * [ Chico Buarque de Holanda ]
[ O mundo é bão, Sebastião. ] * [ Nando Reis ]



A cada dia, menores.
O mundo maior, mais gordo, mais ávido.
E nós, a cada dia menores.
Miedo.

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Por Raphaël Crone.

Obscenidades.


[ Uma jovem e um copo de vinho curam todas as necessidades. ] * [ Johann Goethe ]


Eu lhe peço um beijo.
Um beijo em minha fronte.
Seu respeito.
Um respeitável beijo obsceno.

___
Por Raphaël Crone.

Anna Sans Coeur.


[ Somos feitos de carne,/ mas temos de viver como se fôssemos de ferro. ] * [ Siegmund Freud ]
[ Eu quero que você venha e leve,/ Leve outro pedacinho do meu coração agora!/ Venha, venha e parta,/ Parta mais um pedaço do meu coração!/ Você sabe que você pode,/ Se isso o faz sentir tão bem! ] * [ Janis Joplin ]



Não há motivo para impacientar-se, Anna.
A tarde ainda não acabou e a noite ainda não veio.
Timidamente, o crepúsculo ainda se insinua no céu cinzento.
Não há motivo para se morrer de decepção.
A carne é forte, o sangue é ferro,
Os ligamentos são fios de aço
E o coração, se não é pedra,
Simplesmente ao se quebrar
Nunca fica tão pequeno
Que não possa continuar batendo além.

___
Por Raphaël Crone.

Nos Prados de João.


[ Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria./ Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos./ Essa é a alegria que ele quer. ] * [ Guimarães Rosa ]
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[ Porque tudo que invento já foi dito nos dois livros que eu li:/ as escrituras de Deus, as escrituras de João./ Tudo é Bíblias./ Tudo é Grande Sertão. ] * [ Adélia Prado ]



Seu João, seu João,
Me ensina a ser mais sábio do que eu sou?
Eu, menino sem malícia, menino de palha...
Dona Adélia, reparte a sua bagagem comigo?
Me mostra por onde seguir?
O sertão é grande,
As veredas muitas
E meus pés pequenos.
Mas eu quero prosseguir.
Noite adentro, eu quero prosseguir.

___
Por Raphaël Crone.

Café Amargo.


[ Se é questão de confessar/ Não sei preparar café/ E não entendo de futebol./ E para ser mais franca/ Ninguém pensa em você como eu faço,/ Ainda que pra você dê no mesmo./ A verdade é que também/ Choro uma vez por mês,/ Principalmente quando faz frio./ Comigo nada é fácil/ Você já deve saber,/ Me conhece bem./ E sem você tudo é muito chato. ] * [ Shakira ]


Recordações felizes são as mais dolorosas.
Cada pequeno detalhe imprime-se na mente com uma vivacidade cruel.
E ao mesmo tempo, sabemos que nada mais será feliz como foi naqueles dias.

___
Por Raphaël Crone.

An Èlise.

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[ Alguien que me diga, que me diga lo que quiero escuchar;/ Alguien que me cuide y que me hable/, que me lleve adonde va;/ Alguien que me quiera y que me lleve a buscar. ] * [Julieta Venegas ]




É você, irmã,
A alegria da minha juventude.
Seu destempero, semelhante ao meu,
Sua profundidade quando sofre e sua leveza quando sorri.
Seu egocentrismo e mau-humor,
Tão eu!
É você, irmã,
A tempestade que acorda fora de hora,
A languidez e a indolência das tardes,
As fotografias e brincadeiras de infância.
A companheira de minha inocência,
É você, irmã.
A única venturosa que compreende os mais recônditos meandros de minha escuridão.
Que me dá sustento descompromissado,
A que jamais falhará.
É você, irmã, canção dos meus dias,
Sangue do meu sangue,
Coração meu.

[ FOTO: ] *Rafah & Ane - Julho/ 2008.

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Por Raphaël Crone.

Uma Tentativa de Compreensão.


[ Tudo em ti era uma ausência que se demorava:/ Uma despedida pronta a cumprir-se. ] * [ Cecília Meirelles ]

[ De repente do riso fez-se o pranto,/ Silencioso e branco como a bruma/ E das bocas unidas fez-se a espuma,/ E das mãos espalmadas fez-se o espanto./ De repente da calma fez-se o vento,/ Que dos olhos desfez a última chama/ E da paixão fez-se o pressentimento/ E do momento imóvel fez-se o drama./ De repente, não mais que de repente,/ Fez-se de triste o que se fez amante/ E de sozinho o que se fez contente./ Fez-se do amigo próximo o distante,/ Fez-se da vida uma aventura errante,/ De repente, não mais que de repente. ] * [ Vinícius de Morais ]

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Era notório: a frialdade do inverno pode ser sentida mesmo quando não se pronuncia palavra para anunciá-la.

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Por Raphaël Crone.

Bhuta.


[ O que a memória ama, fica eterno./ Te amo com a memória,/ imperecível. ] * [ Adélia Prado ]

[ Não quero faca, nem queijo./ Quero a fome. ] * [ Adélia Prado ]



Rasga-me. Com teus dentes jovens, rasga a pele de meu peito.
Vampiriza-me, animália. Bhuta da Índia.
Lambe as grossas gotas de sangue que vertem de minha pele alva e lisa.
Geme, deixa-me ouvir o teu gemido,
Cheio de insaciedade e excitação.
Mata a fome que antes te devorava,
Mata-a em meu peito.
Lambe meu sangue doce e casto.
Impoluto.
O que foi sangue torna-se imortal,
Quando não mais dele necessita para viver.
Corrompe-me, para que eu seja incorruptível.
Sela tua face em minha memória,
Deixa-me vê-lo, a fim de que jamais esqueça.
Sede a minha faca e a minha fome,
Externalizados.
Sede o meu anjo de salvação.
Sede o purgatório e o limbo,
Meu ingresso ao céu.
Sede a minha overdose noradrenérgica
E a minha fascinação.
Sede minha consolação nesta noite.

_____
Por Raphaël Crone.

Fio das Horas.


[ É preciso encarar a vida de frente,/ Sempre encarar a vida de frente e vê-la como ela é./ Por fim, entendê-la e amá-la como ela é./ E depois deixá-la seguir.../ Sempre haverão os anos entre nós,/ Sempre os anos, sempre o amor,/ Sempre a razão, sempre o tempo,/ Sempre as horas. ] * [ Virginia Woolf ]



Olho para o relógio assim como um idoso o faz.
Minutos para a meia-noite. Para o ocaso.
Sou jovem e belo e não sei se chegarei a ser velho.
Não é importante para mim.
O amargo arrastar das horas
Me faz entender que sozinho aqui
Nada pode ser feliz
E nenhuma consolação pode existir para mim.
Quem sabe, um riacho em Sussex.

_____
Por Raphaël Crone.

Ventre Afora.


[ A maior felicidade é quando a pessoa sabe porque é que é infeliz. ] * [ Fiodor Dostoiévsky ]

[ Lágrimas não são argumentos. ] * [ Machado de Assis ]



Ninguém nunca nos garantiu contentamento pleno.
Não consta no contrato de vida,
Que aliás, nenhum de nós assinou deliberadamente.
Argumentamos conforme podemos.
Justificamo-nos fisiológicamente.
Sofrivelmente, lutamos debalde uma luta vã.
E nos resta apenas perguntar, afinal:
Alguém nos amará quando formos velhos demais para continuar essa carreira?

_____
Por Raphaël Crone.

O Menino Verde.

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[ Eu gostaria de ser Maria, mas La Callas exige que eu me comporte com sua dignidade. ] * [ Maria Callas ]


Eu sou meus cabelos castanhos,
De tom claro e brilho intenso.
Sou o agrado que eles causam à mão que os afaga.
Eu sou o sorriso feito de coração,
Com alvos dentes alinhados.
Eu sou o menino sem camisa que corre pela rua,
Despreocupadamente, do alto dos seus 23 anos.
Eu sou a pele alva, às vezes um pouco queimada pelo Sol.
Sou a humildade e o desamparo.
E sou a majestade. Sou a força que o oprime,
O coração que nega-lhe afeto.
O corpo que nega-lhe prazer.
Sou o não que ecoa em seus ouvidos
E o sim que lhe beija ardentemente.
Tenho nome, mas ele não importa.
Tenho fome, mas ela não me devora mais.
Tenho medo, mas ele é pequeno ao meu lado.
Tenho amor, mas ele está esquecido em algum canto de mim.
Resgate-me. Simplifique-me.
Adestre-me.
Mostre-me que ainda há algo em que acreditar,
Enquanto a manhã do quinto dia não nasce.
Faça a minha escuridão valer a pena.
Seja bom para mim.

_____
Por Raphaël Crone.

Dignidade Espezinhada.

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[ Como é frágil o coração humano -/ espelhado poço de pensamentos!/ Tão profundo e trêmulo instrumento de vidro,/ que canta ou chora! ] * [Sylvia Plath ]



Por você eu me despi de meu temor. Por você eu chorei no chão do banheiro. Por você eu fui apenas um menino grande.

_____
Por Raphaël Crone

Ponto de Fuga.

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[ Nem todos os que vagam estão perdidos. ] * [ J.R.R. Tolkien ]


Quero ir para onde não haja rostos que me conheçam.
Onde não haja vozes que me exaltem ou diminuam.
Onde não haja resquício de aprovação ou conveniência.
Quero ganhar a estrada de Santiago,
Minha eterna necessidade de auto-conhecimento.
Quero sonhar um sonho místico, além de Creta,
Além de Ítaca, além das asas de Hypnos.
Quero ser amigo do rei e das belas donzelas,
Quero dividir meu leito com os valentes e as amazonas de Hipólita.
Quero corromper os impuros e sarar os doentes.
Quero estar em êxtase religioso nos templos da Índia,
Banhar-me devotamente no Ganges
E orar, ajoelhado, diante da primeira estrela da noite
Pela cura de Afrodite.
Quero deixar tudo para trás,
Levantar as mãos e rir de um riso doloroso,
Que limpa as entranhas e expulsa o mal.
Quero exorcizar a necessidade de complemento,
Inerente aos homens. Quero o self.
O enough. O bastante.
Quero viajar na calada noite, capa e capuz,
Indistinto peregrino,
Quero chegar ao fundo do mar
E não temer a absoluta escuridão que lá impera.
Quero ser o imperador e o súdito.
Aragorn e Arwen. Quero ser a rainha dos Elfos.
Quero velejar pelas Terras Imortais.
Quero esquecer a dor de ser um homem,
Quero esquecer a solitude e a solicitude.
Quero voltar ao ventre de minha mãe,
Aninhar-me em seu regaço
E derramar minha última lágrima
Quando a última aurora raiar no céu.

_____
Por Raphaël Crone.

Belo e Triste.

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[ Oh, Sra. Dalloway, Sempre dando festas para encobrir o silêncio. ] * [ Virginia Woolf ]



Quero ver em seu rosto a aprovação
Que me faça esquecer as conveniências.
Que me faça não dizer palavra.
Apenas não me importar, por fim, então.

_____

Por Raphaël Crone.

Para Que Serve o Amor.

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[ Olhos que fazem baixar os meus,/ Um riso que se perde em sua boca,/ Aí está o retrato sem retoque
do Homem a quem eu pertenço./ Quando ele me toma em seus braços,/ Ele me fala baixinho./ Eu vejo a vida cor-de-rosa. ] * [ Edith Piaf ]


A quoi ça sert l'amour?
A Edith costumava perguntar isso, em dueto,
Incessantemente.
Para que serve o amor?
Me perguntaram um dia, também.
Sinceramente, até hoje não sei bem responder.
Só sei que ele me faz sorrir, ainda que não haja motivo.
Ele me faz cantar melodias tolas,
Como se elas fossem a mais magistral ópera de Wagner.
Ele me faz acordar e dormir pensando, alegremente,
Nas alegrias e delícias de uma vida incompreendida até então.
Ele retira o ranço do meu semblante e me adoça o rosto.
Me faz ser indulgente e paciente com os erros,
Me torna suportável e, quem diria, até engraçado.
Para isso serve o amor, eu penso.
E também serve para mostrar a frágil humanidade que me habita,
Para me fazer afogar em lágrimas quando o vejo partir,
Para me sentar em um banco de praça em tarde nublada,
Lendo Virginia e Silvia, desejando a felicidade delas,
Ainda que elas tenham sido mais infelizes que eu.
Para ser banhado pela chuva que cai, como uma estátua lúgubre.
Para me mostrar os bares e tavernas,
O fundo dos copos de brandy.
A minha cama vazia,
Minha lembrança alvoroçada.
Uma dor pungente e aguda. Dilacerante.
E ainda assim, com o arrastar dos dias,
Este mesmo amor ingrato
Mostra a mim mais uma vez e sempre,
Que por mais que eu me recuse a acreditar,
A vida pode ser, sim, ainda cor-de-rosa.
Ma vie en rose.
E eu baixo meus olhos aos seus, então.
E recomeço tudo de novo.
Até que não haja fôlego de esperança em mim.
Até que tudo termine e eu descanse no regaço de um amor maior.
Para isso, eu penso, deve servir o amor.
E não posso negar,
É uma boa justificativa.

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Por Raphaël Crone.

domingo, 23 de novembro de 2008

De Olhos Fechados.


[ É necessário ter o caos cá dentro para gerar uma estrela. ] * [ Friederich Nietzsche ]



Eu sou um universo em formação e deformação.
Sou uma praia distante,
Uma melodia confusa,
Mais ou menos uma Rapsódia de Liszt.
Eu sou paradoxal e confuso.
Costumo assustar.
Eu sou o caos e o Éden.
E sou apenas um menino.

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Por Raphaël Crone.

Um Voto Desfeito.


[ Tell me her name,/ I want to know/ The way she looks/ And where you go./ I need to see her face,/ I need to understand/ Why you and I came to an end./ Tell me again,/ I want to hear/ Who broke my faith in all these years./ Who lays with you at night/ When I'm here all alone,/ Remembering when I was your own. ] * [ Lara Fabian ]



Eu soprei em seus lábios o vento de meus pulmões.
Brincadeiras tolas.
Eu soprei em seus lábios o fôlego de minha vida.
Eu soprei minha juventude e vigor.
Eu soprei meu amor por você.

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Por Raphaël Crone.

Prière.

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[ A verdade tem muitas faces e assemelha-se à velha estrada que conduz a Avalon:/ o lugar para onde o caminho nos levará depende da nossa própria vontade e de nossos pensamentos,/ e, talvez, no fim, chegaremos ou à sagrada ilha da eternidade,/ ou aos padres, com seus sinos, sua morte, seu Satã e Inferno e danação.../ Mas talvez eu seja injusta com eles./ Até mesmo a Senhora do Lago, que odiava a batina do padre tanto quanto teria odiado a serpente venenosa,/ e com boas razões, censurou-me certa vez por falar mal do deus deles./ “Todos os deuses são um deus”, disse ela,/ então como já dissera muitas vezes antes,/ e como eu repeti para as minhas noviças inúmeras vezes,/ e como toda sacerdotisa, depois de mim, há de dizer novamente,/ “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador./ E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”./ Mas esta é a minha verdade;/ eu, que sou Morgana, conto-vos estas coisas,/ Morgana que em tempos mais recentes foi chamada Morgana, a Fada. ] * [ Marion Zimmer Bradley ]
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Ensinai-me, Mãe, a olhar para o tempo além de meus olhos.
A olhar para as florestas de Lórien e para a imensidão que se perde além do meu dia.
Ajudai-me a contemplar os mundos paralelos
E a ouvir as canções dos elfos e duendes.
A encontrar consolo na beira de um regato e a respeitar a santidade da grama que piso,
A imponência e sabedoria das árvores anciãs
E a efervescência de magia na chuva que cai.
Ajudai-me a encontrar esperança em vosso regaço, Mãe,
Que planta, que cuida e que sega.
Tripla Bridget, sacerdotisa e cuidadora,
Ensinai-me a ter retidão de pensamento e mansidão.
A enxergar a luz em cada criatura
E a ser um convosco em minha longa caminhada além desta terra
Na qual peregrino por agora.
Mas não para sempre.

Que assim seja.

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Por Raphaël Crone.

Entre os Atos.


[ Eu perdi amigos, alguns para a morte, Outros pela incapacidade de atravessar a rua. ] * [ Virginia Woolf ]



Não me deixes perder de ti, meu amigo,
Por não ter força nas pernas para ir ver-te.
Se preciso for, carrega-me até eu ser forte.
Se preciso for, venha tu me visitar em minha clausura.
Se preciso for, resgata-me da frialdade, assim como o bardo Kevin fez com a velha Morgana em Tintagel,
Se preciso for, apenas telefona-me e me mostra que ainda sou importante e sirvo para ti nesta vida.

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Por Raphaël Crone.

Ela é Meu Homem.


[ Você é desinibido na cama?/ Mais de três vezes por semana?/ Aberto a experimentar coisas novas?/ Você é atlético?/ Você está num trabalho que ajuda seu irmão?/ Não é viciado? ] * [ Alanis Morissette ]



Incrivelmente, ela me joga na fossa.
I thought we'd be simple together,
but I was sadly mistaken.
E ela me puxa para fora dela:
Is she perverted like me?
Would she go down on you in a theater?
Sim, ela me faz sentir como um príncipe, o seu príncipe familiar
E me faz querer morrer com as verdades que me fala:
Soon I'll grow up and I won't even flinch at your name.
Ela cura dor-de-cotovelo e ensina ter vergonha na cara.
Ela poderia ser pop e chique.
Mas a verdade é que ela é bem alternativa.
Alternativa o suficiente para mim.

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Por Raphaël Crone.

Uma Mulher Suja.


[ Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo,/ não se transforme também em monstro./ E se tu olhares durante muito tempo para um abismo,/ o abismo também olha para dentro de ti. ] * [ Friederich Nietzsche ]



Vendi meus dentes, como a Fantine de Victor Hugo, por uma causa nobre.
Perdi os meus cabelos para a fome e para a necessidade.
Perdi a dignidade mendigando minha ração e perdi a vergonha quando senti a fome apertar.
Sou renegada, sou excluída.
Minha teto é o firmamento e minha canção pede uma moeda para soar,
Um pedaço de fazenda pobre para a vestimenta
Ou um pão duro para o estômago.
Ninguém me traz flores ou elogios,
Eu sou invisível. Eu lhe trago incômodo e pesar,
Às vezes, alguma pena;
Em minha vertigem, em minha insônia, eu apenas aguardo.
Quando você me conhecer, eu estarei aguardando.
E quando você me esquecer, aguardando ainda eu estarei.
Depois de você e depois dos outros.
Aguardarei.
Esta é a sina dos desafortunados.
Até que a vida me libere e eu possa apenas descansar.
Antes que isso aconteça,
Aguardando estarei.

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Por Raphaël Crone.

Fièvre.


[ You give me fever when you kiss me,/ Fever when you hold me tight./ Fever in the morning,/ Fever all through the night. ] * [ Elvis Presley ]



Eu quero sentir a sua mão em minha pele,
Pornograficamente.
Quero sentir o som de sua voz morrendo,
Até tornar-se um sussurro obsceno,
Me fazendo pensar no existencialismo mais medíocre.
Quero ser sufocado pela onda libidinosa na qual só você sabe me envolver.
Como Elvis ardia,
Eu quero arder.
Ma fièvre.

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Por Raphaël Crone.

Pedido Recôndito.


[ Lembro-me das noites que o assisti dormir,/ Seu corpo agarrado por algum sonho distante./ Bem, eu estava tão assustada e tão apaixonada aquela época/ E tão perdida em tudo de você que eu havia visto.../ E eu não vou te esquecer,/ Também não vou nunca deixá-lo partir./ Oh, eu não vou te esquecer... ] * [ Sarah McLachlan ]



Não me esqueça. Pense em mim de vez em quando.
Lembre-se que um dia eu fui a razão do seu sorriso mais bonito.

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Por Raphaël Crone.

Limão e Sal.


[ Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira. ] * [ Cecília Meirelles ]

[ É pensando nos homens que eu perdôo aos tigres e às garras que dilaceram. ] * [ Florbela Espanca ]

[ Eu só quero que você saiba que eu estou pensando em você, que eu te adoro cada vez mais e que eu te quero sempre em paz. ] * [ Marisa Monte ]



Às vezes ainda choro ouvindo as nossas canções.
A vida, com o passar dos anos, passa a ser tão feita de memórias
quanto de realidade.
Princípio de senilidade.
"Não me dizes nada romântico quando chega o entardecer",
a Julieta costumava cantar para nós.
E eu julgava que lhe querer com limão e sal seria suficiente.

Hoje, eu já não me importo mais,
Ainda que sinta um pontinha de tristeza quando paro para lembrar do que fomos juntos.
Ainda lhe quero com limão e sal,
Mas quero seu sorriso amigo e seu abraço sincero
Mais que nossos corpos juntos.
Aprendi a amar-lhe de forma imortal,
A amar-lhe amigavelmente.
A dar-lhe o limão e o sal.

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Por Raphaël Crone.

Um Encontro Interior.

[ Escrevo sobre isolamento e ternura, a perturbadora ambivalência nossa, frivolidade e covardia, às vezes a graça e o riso. ] * [ Lya Luft ]



E nesta ambivalência eu perdi a mim mesmo.
Eu perdi. Eu sei.

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Por Raphaël Crone.

São Paulo Pianoforte.


[ Quando eu morrer quero ficar,/ Não contem aos meus inimigos,/ Sepultado em minha cidade,/ Saudade./ Meus pés enterrem na Rua Aurora,/ No Paissandu deixem meu sexo,/ Na Lopes Chaves a cabeça/ Esqueçam./ As mãos atirem por aí,/ Que desvivam como viveram./ As tripas atirem pro diabo,/ Que o espírito será de Deus,/ Adeus. ] * [ Mário de Andrade ]

[ E se eu apenas pudesse,/ Eu teria feito um trato com Deus;/ Eu o pegaria para trocar os nossos lugares./ Continue correndo estrada afora./ Continue correndo colina acima./ Continue correndo pelo prédio. ] * [ Placebo ]



Minha melancolia personalizada em seus edifícios,
Em suas ruas abarrotadas e vazias.
Gosto de ruas. Gosto de falar delas e tocar suas fachadas.
Gosto de abraçar seus postes imponentes e decrépitos.
Gosto das suas ruas, especialmente à noite.
Gosto de sua vulgaridade e de sua eminente pompa.
Gosto de sua efervescência.
Efervescendo-me.

Meu sorriso tímido sentado no Ibirapuera.
Observações.
Minhas mãos finas tocando a grama verde,
Contemplando o lago. Hologramas.
Meus pés mal-cuidados subindo a colina.
Gosto da melodia da cidade. Da necessidade de vida.
Demonstrar vida, ainda que ela esteja degolada em alguns de seus becos boêmios.
Boêmia Augusta. Financeira Paulista.
Os seus Jardins imponentes, Europa, América.
África, apresente-se a mim.

Gosto dos seus bares e das suas orgias.
Gosto de sentir minha alma virgem sendo maculada pela sua corrupção.
Gosto de suas estradas desertas e dos seus rios inexistentes.
Gosto da profusão de vozes que me gritam
E de como elas são invisíveis aos meus olhos.
Gosto de observar os contrastes que se espalham por cada esquina.
Sua opulência e sua miséria,
Gosto por que você é como eu, Paulo Santo.
A bênção?

Gosto de seu luxo e luxúria. Daslu, Iguatemi, Morumbi.
Nomes indígenas para brancos.
Gosto de sua vida noturna. Impagável.
Gosto do deslumbramento que você causa aos forasteiros,
De sua vulnerabilidade. Bem como eu.
Eu continuo subindo a colina.

Gosto de suas favelas, onde convivem o crime e o castigo de Dostoiévsky,
Onde convive a honestidade velada.
De suas letras e liras. Liras paulistanas, Mário.
Tarsila, pinte um retrato meu? Anita?
Oh, não. Não dê ouvidos ao Lobato, Anita.
Vamos, pinte um retrato meu:
Eu, meu cigarro e a modernidade inaugurada.
Serei seu modelo. Nudez premeditada.

Gosto de subir as suas colinas, Paulo Santo.
Suas ladeiras. Dirigir rápido por suas vênulas e arteríolas.
Me sentir vivo com o pulso de sua aorta excepcional.
Gosto de você. De sua-minha excentricidade.
De seu-meu desencanto encantador.
De sua esperança e de seu poder de desiludir.
De sua mobilidade imóvel.
Gosto de você porque me vejo em você.
E do alto de sua mudez altiva, Paulo Santo,
Eu me ajoelho e beijo seus pés,
Por que sei que você também abre os seus braços por mim.

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Por Raphaël Crone.

Uma Questão de Medicina.


[ Eu estava confuso pelas forças existentes,/ Esquecendo nomes e rostos./ As pessoas passavam por mim pelas ruas como se pudessem me apagar./ Querido, você se esqueceu de tomar os seus remédios? ] * [ Placebo ]



Eu passo pelas ruas prestando atenção,
Mas nada me é reconhecível.
Pessoas estranhas, a mesma estranha padaria onde eu tomo meu café todas as manhãs,
A mesma estranha garçonete com cara de gato.
A noite foi longa.
O sexo e as consequências. Não reconheço a fachada do meu edifício
E nem me lembro bem quais das chaves abre meu apartamento.
Tudo gira e confunde-se na face daquela mendiga velha e gorda,
Sentada no banco da praça próxima.
Paris? Montparnasse?
Aqui mesmo. Oh, droga, eu me esqueci de tomar...
As consequências.
Tudo é frio e estranho. Distante.
A luz do sol que chega difusa até mim, lutando para vencer as grossas nuvens no céu.
As folhas que caíram depois da última chuva.
Meu celular que vibra no bolso de minha calça.
Onde ele está?
Droga, eu me esqueci novamente...

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Por Raphaël Crone.

sábado, 22 de novembro de 2008

Uma Questão de Tempo.

[ Ama-me, é tempo ainda. ] * [ Hilda Hilst ]



A eternidade não pode ser vista como algo que vai chegar,
Na verdade ela já nos acompanha há muito tempo.
Cada dia que passa é um dia a menos que temos para desfrutá-la.
É um dia a menos de conversas corriqueiras com amigos,
Um dia a menos de beijos e abraços apaixonados,
Um dia a menos de dores e abandonos.
Um dia a menos para se fazer o que já deveria ter sido feito antes.
Por isso, ama. Ainda é tempo.

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Por Raphaël Crone.