sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Infanticídio.


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Os meus braços lhe enlaçam, Cinderella, Eles sugam a sua respiração por ciumenta tortura.
Os braços do Brahma, o lord das Índias,
Os um milhão de olhos com os quais eu lhe observo,
As previsões do meu novo guru, que me aprisionam em um êxtase imaginário.
O fogo sagrado.
O trem de ferro que corta as ruas tomadas por elefantes brancos,
O que conduz a donzela mais bela, rameira notória.
A profunda sensação de possibilidade, efêmera, contraditória,
Não o começo da felicidade, mas a felicidade em si,
Morta e pisoteada em alguma ruela insalubre.
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-O amor não é feito de sonhos, Cinderella.
O amor não é feito de desconfianças.
A chaga que lhe matou é a mesma que ulcera quase o mundo todo.
É a gota fria que apaga a luz da candeia,
O cesto que impede que o quarto seja aquecido pela chama da vela oculta sob ele.
O amor aniquilado, infanticídio.
Toda uma vida de possibilidades sob as patas do seu elefante branco, que não anda no trem de ferro.
-Seja cautelosa, Cinderella. Não seja Alice.
A Rainha Vermelha - figura do seu ciúme - está em nosso encalço, devorar-nos-ia se nos encontrasse.
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Não mate a criança, oh, não!
Misericórdia aos oprimidos. O amor é uma criança.
Não esfregue as mãos sujas, não macule a coma dourada com o escarlate véu que lhe tinge.
Um segundo para acreditar, um segundo para plantar,
Uma vida para segar as messes dos campos que estão sendo semeados.
-Não olhe para a frente, Cinderella! Feche os olhos por um instante.
Aqui o tempo passa, inexoravelmente e não se preocupa em corrigir os enganos.
Cabe a nós corrigí-los. O que é sina.
Não mate o infante, não beba do cálice amargo do seu ciúme.
Esta mágoa, este medo da felicidade não durará mais do que o tempo de sua queda penhasco abaixo.
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Reconstrua o templo de Afrodite, retire os escombros de seus portais.
Deite-se sobre o altar florido e deixe que o tempo leve seu suspiro embora.
A criança tomará um cutelo afiado,
Com um movimento dará cabo de tudo. Morte de Cinderella.
A vertigem que precede a imperiosa necessidade de crescer lhe porá em pé novamente.
A surda confiança, de olhos de lince.
A taça da qual o amor-criança bebe. O veneno que não o mata.
O antídoto. Feast on scraps.
O amor não é feito de sonhos, mas ele voa em suas asas etéreas.
O amor é feito de matéria sólida. Uma união tão necessária que chega a ser carne,
Uma cumplicidade tão intensa que chega a ser sangue.
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Até onde eu deverei ir, Baba? Um estado de graça,
Um estado de emergência. Quanto mais até que eu seja puro?
Ciúmes, morte de Cinderella. Ordinária morte evitável.
Eu luto contra as patas do elefante da rua.
Eu galopo o trem de ferro e ornamento os cabelos da pródiga filha.
Eu estudo seu sorriso e mergulho em cada lágrima vertida,
Eu a faço renascer. Branca necromancia sentimental.
Não admito, não há fim para a jornada que percorremos.
Um banquete de migalhas, varridas para debaixo do tapete:
Morte de Cinderella, queda de Avalon.
Um amor embalado com carinho, onde não há final.
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Um momento se passa. A tempestade se acalma.
O mundo está em seu lugar.
Mas - espanto - onde está Cinderella?

[ FOTO: ]* Raphaël Crone - Dezembro/ 2008 .

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Por Raphaël Crone.

Um Dilúvio Interior.

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[ Um conselho?/ Crianças, amem. Jovens, amem./ Homens e mulheres, amem. ] * [Edith Piaf ]


Sentei-me na clareira mais profunda da floresta,
Na mais escura e perdida, a mais distante.
O vento meridião, frio e mordaz, não poupava esforços para anunciar a noite invernal, onde ele reinava como senhor absoluto.
A floresta aparentemente dormia. A vida ia mais devagar, cursando sua rota incessante,
Devagar... Devagar... Assim.
Levantei os olhos e vi: vi do que é feito o vento,
Vi cada sopro, cada movimentação do ar,
Todo o sentimento inerente à sua ação tão natural.
Tocando a terra com uma das mãos absortas,
Ouvi, sim, eu ouvi: ouvi do que é feito o solo,
O abundante tapete vivo que suporta o peso da humanidade.
Os grãos esparsos me contaram de que matéria eles são compostos,
De que fibra são constituídos e em quanto amor eles são banhados.
Presenciei os movimentos das sombras,
Divisei entre os arbustos formas inomináveis,
Criaturas que Hypnos não possui, auscultei o batida de um ritmo silencioso,
Que cadencia toda forma de existência,
Como se todas as formas de existência fossem feitas de uma só.
O céu escuro e nebuloso ocultou de mim as estrelas,
Não tive permissão de vê-las, ciumento que seu guardião deve ser,
Mas vi a Mãe Lua e sua grande face redonda e cheia,
Como a de quem toma corticóides ou como a de quem morreu por afogamento.
Atentando-me aos sons mais profundos, ouvi também,
A melodia dos povos pequenos, do povo das fadas.
Algo melancólico, mais triste que o mais triste Noturno de Friederich Chopin,
Senti a canção de Elise, vinda dos mortos ouvidos de Beethoven
E por um minuto, senti os rápidos movimentos de um Minueto de Bach golpearem-me o rosto.
Um estrela apareceu, lânguida e silenciosa, fria. Ocultou-se novamente.
Ou ocultada foi. A vida noturna continuava a se agitar.
O chão frio, o vento frio, a chama que arde e a chuva que cai.
Meus cabelos lisos lavados, minha imobilidade passional.
A paralisia frente a tudo o que é maior e mais antigo do que eu, pequeno e jovem que sou.
Après moi, le deluge - Eis o sussurro, o único, que meus lábios permitiram escapar.
Depois de mim, o dilúvio.
Nada mais existiria ou se perpetuaria sem o espírito do amor ancestral,
Que mora em mim. O amor que ele me deu, razão do meu afeto,
Coraçãozinho meu. A natureza expressa o que é amor.
Sua movimentação é embalada e regrada pelo amor à vida.
A vida que ele restaurou em mim, o dilúvio que varreu minha terra obscena.
Deitei-me no chão, sempre frio, em meio às gramíneas e ouvi uma vez mais:
A história que as velhas árvores, de longos braços folhosos,
Contaram-me, pacientemente. Adormeci.
Em meio ao meu sono, senti os seus braços humanos.
Ele chegou, deitou-se ao meu lado e fez-se um único mistério comigo.
Um coração, um amor. Um com a Mãe, que é Eterna e Abençoada.
Adormecemos. E a vida seguiu seu incansável rumo, levando-nos desta vez,
Em seu suave regaço de amor maternal.

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Por Raphaël Crone.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cenas Domésticas.

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[ Em minha alucinação,/ Eu vi meu amado jardim de flores./ Em minha vertigem, em minha tontura,/ Em minha embriaguez,/ Girando e dançando como uma roca,/ Eu me vi como a fonte da existência./ Eu estava lá desde o começo,/ Eu era o espírito do amor./ Eu anseio pela felicidade, eu peço ajuda,/ Eu quero misericórdia./ O amor que existe em mim diz:/ "Olhe para mim, ouça-me,/ Porque eu estou aqui somente para isso./ Eu sou a sua Lua e o seu luar,/ O seu jardim florido e a sua água também./ Eu percorri todo este caminho, ansioso por você,/ Sem sapatos ou manto./ Eu quero que você ria,/ Quero matar todas as suas preocupações./ Quero amá-lo, quero nutrí-lo./ Eu irei confortá-lo e curá-lo,/ Eu lhe trarei rosas". ] * [ Madonna ]


O momento em que eu deito a minha cabeça em seus braços,
Eis o que os antigos deviam conhecer por Magicka.
Nossa vida despreocupadamente comunitária,
Comunidade de eu e você, gentil e amável comunidade.
O meu banho quente que você não tolera e o seu banho frio, que eu evito tolerar.
Os nossos cafés-da-manhã, almoços às 16 horas.
Nossos sanduíches improvisados e o bife grande no jantar.
Eu o observo, eloquentemente extasiado, enquanto você diz que deveria me obrigar a comer tomates
E em resposta eu lhe ameaço ternamente com a dieta da couve-flor.
Certas coisas que apenas nós dois entendemos.
Nossos mergulhos noturnos, nossos banhos de escaldante sol da tarde,
Nossa sombra tépida e silenciosa,
Uma rede e uma cadeirinha,
Nossos olhares perdidos, horas e milhas distantes, entre si.
As horas de amor quente e provocante,
A profusão dos sentidos, a intimidade nua e indecente,
O maior amor do mundo, que você me dá quando me enlaça em seus braços,
Meus lábios lhe devolvem, com um longo beijo apaixonado.
O modo como você seca as minhas costas e o meu cabelo após o banho,
A forma como comemos biscoito no quarto, cuidando para não sujar a cama,
O novo abraço com o qual você me toma no meio da madrugada,
O abraço que me permite dormir em paz,
Os seus braços ao redor da minha cintura, a mesma que lhe presenteei.
O aprendizado que é a nossa relação, o nosso crescimento,
Nossos um milhão de planos, nosso futuro e nosso presente que nunca passa.
O medo que se dissipa, a sombra que desvanece
E a luz em mim que você acendeu e que ninguém apaga.
Eis o que os antigos deviam conhecer como Magicka,
O imenso zelo e cuidado, como o meu e o seu,
A urgente necessidade que é a sua presença para mim, a noite escura da minha alma, que insiste em cair quando você dobra a esquina.
Eis do que é feita a nossa comunidade: a sua honestidade, que não me deixa amar outro
E o meu amor, que lhe segura firmemente, que lhe ampara com ternas mãos e fortes braços.
Meus mui felizes dias com você, meu sorriso de homem feito e meu sorriso de menino levado.
Eu lhe trago flores, eu lhe cuido e eu lhe saro.
Você me faz feliz, me permite evoluir, me permite melhorar.
Nossa comum sociedade, razão dos meus dias,
Razão de todos os meus felizes dias,
Todos os meus felizes dias com você.

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Por Raphaël Crone.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Quatro Mãos.

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[ Eu estive esperando,/ Passeando pelos corredores desde de que você se foi./ Eu estive limpando,/ Esfregando os pratos e capinando o jardim./ Todos os pássaros estão na direção do sul,/ Mas você continua na direção do norte./ Eu tenho jaquetas, cobertores e lençóis,/ Este será um dezembro frio. ] * [ Matt Costa ]


É uma questão que suplanta a filosofia e a política,
Que Marx não explica, que Comte não justifica
E que sociologia nenhuma pode adequar.
É um olhar vago que ultrapassa a movimentação da luz
E que cerra as sombras com um véu misterioso.
Contestações de um homem jovem, que insiste em ser menino ainda,
Quem as entenderia?
Você chegou e me respondeu algumas perguntas difíceis.
Deixou outras mais complicadas no lugar, mas tudo bem.
Algum dia responderemo-nas juntos.
Não tenho pressa e tenho a você.
Suficiente providência sentimental para mim.

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Por Raphaël Crone.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Voyage - Vol 2.

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[ All the fear has left me now./ I'm not frightened anymore;/ It's my heart that pounds beneath my flesh./ It's my mouth that pushes out this breath./ And if I shed a tear, I won't cage it,/ I won't fear love and if I feel a rage, / I won't deny it, I won't fear love. ] * [ Sarah McLachlan ]


Apenas um segundo: eis que o céu se abre e se fecha,
O então-proclamado salvador, o que preenche meu coração,
Ele me chama. Estou indo, amor.
Estou indo. Estou indo em direção ao êxtase.

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Por Raphaël Crone.

Acordando.

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[ People ask if I'm in love with you,/ Because I'm sitting here with your picture / And smiling to myself (I smile)./ I'm kinda lost in my own thoughts of you,/ My heart speaks before, my mind thinks through / And I blush as I say "yes". ] * [ Christina Aguilera ]




Acordei sorrindo, ao som da sua voz, telefone tocando.
10h31. Eu, sonolento, o coração palpitando
(Sim, ele sempre palpita quando fala com você),
E de um orelhão distante, você tocou-me uma vez mais.
Um sorriso que não desapareceu durante todo o restante do dia.

[ As pessoas perguntam se eu estou apaixonado por você,
Porque eu fico aqui sentado com a sua foto e sorrindo sozinho (eu sorrio).
Eu estou perdido em meus próprios pensamentos,
Meu coração fala antes que eu pense
e eu fico vermelho enquanto digo "sim".
]

Sim, eu estou realmente gostando de você, Baby T.



[ NOTA: ] *O trecho em itálico vermelho pertence à canção Lovin' Me 4 Me, de Christina Aguilera, Scott Storch e Matt Morris (versão adaptada).

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Por Raphaël Crone.

Bicho.

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A Bicho chegou em casa há uns três meses atrás,
Magrela e desengonçada, com cara de suja e doente.
Depois, descobri que ela não estava doente, mas com fome.
Nada que um banho forçado e um pouco de comida não resolvesse.
Ela é uma boa companhia, gata de rua,
Gosta de passear, sempre volta depois.
Silenciosa e terna, como toda gata de rua sabe ser.

Num desses passeios a Bicho voltou para casa prenha.
Logo desconfiei, por causa das glândulas mamárias hipertrofiadas,
Não quis muito acreditar. Bobagem!
A minha avó já havia sentenciado:
"Não quero uma gata, se ela pegar barriga, vai para a rua!"
Não que a minha avó seja a pior pessoa do mundo,
Estamos mudando de cidade, uma ninhada de gatinhos não é uma bagagem viável.

Agora a Bicho está barriguda, parece que engoliu um mamão.
Anda com as pernas abertas e tem dificuldade em comer como antes.
De vez em quando, começa a miar para o nada, agoniada
E aí eu acho que ela vai entrar em trabalho de parto. Mas não.
Está proibida de entrar em casa, porque por mais de uma vez ela já tentou se aninhar embaixo das camas.
Ela vai ser levada por uma senhora estranha, para morar em um sítio,
Vai ter seus gatinhos e cuidar deles por lá.

Vou sentir saudades da Bicho. Ela me fazia companhia.
Ela também era, indubitavelmente, uma boa parte do meu coraçãozinho juvenil.

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Por Raphaël Crone.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Como Ama Um Menino.

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• Tenho escrito muitos poemas de amor, que interessante,
Eu, que a cada dia percebo que tão pouco sobre ele entendo.
Eu, que a cada dia dou adeus a uma quimera
E eu, que a cada hora desfio um rosário de desejos incolores. Inodoros.
• Assombro: você aparece no canto da porta, de repente: eis o que torna tudo diferente.
O entendimento que me vem, de que homem nenhum pode ser suficientemente solitário.
A sua imagem na porta: eis o que muda tudo para mim.
O tom carinhoso de sua voz ao telefone, miles away
• O suporte e o sentimento. O feeling confortador.
O abraçar de cada fibra do meu coração por seus braços completos.
As gotas de ternura que só você sabe espremer, o meu vinho que lhe dou de beber.
A ternura que apenas você me faz exprimir tão bem, deliberada homenagem ao você que mora em mim.
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Você me faz perder o medo de ser ridículo,
Me faz deitar em seu peito e dormir como uma criança.

Você me cuida e me vigia, me segura quando penso que não há mas ninguém,

Você me ampara e me alimenta.

Você se peocupa se tenho fome ou frio e se eu não consigo dormir, você me abraça e me faz sossegar.

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• Não há nada de especial em você, você é humano,
Mas insubstituívelmente necessário à minha existência fulgás.
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Você me observa pensativo, quando sento fora da casa e começo a fumar, silencioso
E eu não posso deixar de amá-lo quando vejo o seu sorriso preocupado e enternecedor,
Que dissipa e afasta a aflição, que livra-me do mal, como a oração.

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• Sou o menino da calça rasgada, com as pernas à mostra,
O rebelde sem causa e a tempestade da tarde, que você acalma com um beijo.
Você me faz escrever poemas de amor,
Não por mera pieguice, meros devaneios,
• Mas por que é através destas linhas tortas que eu posso expressar as mais profundas verdades que habitam dentro de mim.
O que as minhas palavras não podem formatar,
O que minha voz embargada não ousa proferir,
O que meus olhos tão claramente dizem sem som algum,
Eis o que estas tão-ditas linhas tortas dizem a você.
• Elas sintetizam o texto que meu coração redige dia-a-dia,
O que eu canto minuto-a-minuto,
Elas espantam o medo e me preparam o caminho, elas me levam até você.
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Eu me sinto belo quando olho para você.
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• Você é o espelho do meu incontido desejo de viver.
Eu me ajoelho e beijo suas mãos, cavalheiro.
Eu lhe beijo com lábios e ardoroso coração de menino,
Que não conhece a corrupção e que não anela nenhum outro mais.
Eu lhe beijo com a entrega do mais precioso tesouro que eu guardo,
• Eu lhe beijo com minh'alma e meu corpo,
Eu lhe entrego olhos e lábios, mãos e cintura.
Eu lhe presenteio com o que há em mim de melhor,
Eu lhe espero nesta distante praia, eu lhe visitarei no fim do mundo,
Eu cruzarei as imensidades e seremos um como sempre fomos,
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Eu lhe trarei flores e cozinharei para você.
Em minhas mãos estendidas, eu lhe entregarei o meu dom mais precioso,
Eu lhe darei a certeza de eterna companhia,
Eu lhe darei mel para corrigir a amargura da vida,
Eu lhe darei uma mão para segurar quando a noite for longa e fria,
• Eu lhe darei esperança, a mesma que me vem de você,
Devolverei-a, sim, a você.

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Eu serei um com você até que a eternidade passe, por um simples motivo:
Você me é suficiente e nenhum outro há para mim fora de você.
Até que os céus deixem de repousar sobre nós,
• Estaremos lá. Até que a última chama termine de arder,
Estaremos lá. Até que a última quimera morra,
Sim, acredite, estaremos ainda lá.
Até que repousemos da labuta, meu coraçãozinho,
• Acredite, ainda estarei lá com você,
Você comigo, e no fim de tudo, haverá apenas, acredite, uma grande luz,
Você, eu e o que pode ser deus: um grande, absoluto e indizível AMOR .

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Por Raphaël Crone.

O Preço da Poesia.

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[ Deixa eu dizer que te amo,/ Deixa eu pensar em você./ Isso m acalma, me acolhe a alma,/ Isso me ajuda a viver. ] * [ Marisa Monte & Arnaldo Antunes ]



Às vezes eu preciso tirar os meus dois pés do chão,
Eu preciso voar por um minuto.
Isso me ajuda a viver. A Marisa disse que acalma a alma.
É tão duro estar sempre aqui nesta realidade fria,
Cheia de incertas certezas!
Eu gostaria apenas de facilitar, de cantar uma canção campesina,
Uma melodia simples, sem rebuscamentos,
Apenas uns versinhos românticos,
Que acalmassem a minha alma realmente, poeta que sou.
Menino que sou, romântico e sentimental,
Oculto atrás de uma couraça de gente forte,
Mas frágil, que se magoa facilmente
E que chora sozinho trancado no quarto para continuar a ser gente forte,
Para não esmorecer.
Uma melodia sentimental, um abraço sentimental,
Uma palavra sentimental,
Que alimente meus sentimentos,
Era tudo o que pedia. Não recebi e me acostumei a não pedir mais.
Adeus, outro pedaço. Adeus, alma-de-menino,
Que insiste em se magoar e partir,
Mas que jamais morre. Um ser insensato.
Quem dá ouvidos à sensatez?
Neste momento sou apenas um desprotegido animalzinho sentimental,
Este é apenas um momento desconsolado que vai passar.
Vai passar quando você me abraçar novamente,
Quando você disser que tudo está bem.
Momentos sentimentais, eles me afetam realmente...
Deve ser por isso que tão poeta eu sou.
Um preço alto. Um motivo justo. Um desejo incontido,
Fremente. Um eu como ninguém mais pode ser

[ E uma amável cruz que a ninguém mais cabe carregar. ]

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Por Raphaël Crone .

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Insurreição.

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Esta teimosia, uma penumbra em que vago, uma insurreição.
Esta desconfiança, esta agonia que me vem quando não me vem sua voz.
Esta resignação em ceder-me, esta vontade inóspita.
O consolo de suas mãos e a falta que elas me fazem.
O seu silêncio, a minha sina, o sofrimento animal.
Minha deliberação: ceder-me, doar-me, oferecer-me a você,
Por um milhão de vezes e por um milhão de maneiras
Ceder-me, doar-me, oferecer-me a você.
Cito Drummond e ele me cita em alma:

[ Que pode uma criatura senão, senão entre criaturas, amar? Amar e esquecer, amar e malamar, amar, desamar, amar? Sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso sozinho, em rotação universal, senão rodar também, e amar? Amar o que o mar traz à praia, o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, o que é entrega ou adoração expectante, e amar o inóspito, o áspero, um vaso sem flor, um chão de ferro, e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta, distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa ingratidão, e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita. ]

Realmente e de repente, amor.
Drummond me entenderia e eu o entendo.
Uma pergunta cuja resposta é dada em pílulas,
Uma doação integral e um pagamento em prestações.
Uma eterna e bem-aventurada dúvida infundada.
Que hei de fazer eu, pobre menino?
Amar, como amo. Fundamento necessário, embora perigoso.
Atiro-me assim mesmo neste salto impensado e amo.
Amo como Guimarães me aconselhou certa vez,
E como aconselho a você, leitor:

[ É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado. ]

Este pois é o fundamento. Perigoso, mas necessário.
Esta é a luz do sol que enche o meu bolso.
Esta é a que todos chamam esperança do amanhã.
Este é o que todos perseguem, mas temem mortalmente encontrar.
O salto para o desconhecido, onde uma vontade parte-se em duas, interdependentes.
Este espezinhamento do eu-unitário e esta entrega.
Esta resignação, maravilhosa jornada.
Esta minha doce fuga em direção a você,
Meu outro eu, minha outra parte, interdependente,
Coração meu, maravilhoso sorriso meu. Meu você.

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Por Raphaël Crone.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Que é Redenção.

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[ Por que és assim tão escura, assim tão triste?!/ É que, talvez, ó Noite, em ti existe/ Uma Saudade igual à que eu contenho!/ Saudade que eu sei donde me vem.../ Talvez de ti, ó Noite!... / Ou de ninguém!.../ Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho! ] * [Florbela Espanca ]


Ele me fez esquecer o passado, retumbantemente.
Lavou minhas vestes escuras e tornou-as alvas.
Tornou alvo meu coração triste.
Libertou-me e fez-me acreditar uma vez mais.
Ele fez-me dependente do som de sua voz
E deu-me um milhão de motivos para acreditar novamente.
Um sentimento profundamente sentimental,
Coberto de racionalidades e cuidados,
Uma estrela em ascenção. O desejo de ser melhor que sou.
Quem sabe seja isso o que chamam de redenção.
Os versos que traduzem o que vai dentro de mim.
A confiança, a cumplicidade, nossa intimidade linda.
O meu alter-ego em alter-forma,
Minha escolha, deliberada entrega.
O sorriso diante da face da vida. O acreditar.
A profunda gratidão. A luz interior.
A chama que ele acendeu e que ninguém apaga.
O meu brilho, que ele divide comigo.
A impressionante verdade que encontrou dentro de mim.

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Por Raphaël Crone.

Para o Meu Mais Lindo do Mundo.

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O brilho que emana dos meus olhos quando eles estão olhando para você.
O brilho que ofusca o mais vívido raio de luz. A razão.
A melodia que meus lábios acordam cantarolando
E a cadência vertiginosa de passos de dança que meu coração ensaia quando ouve a sua voz.
Este sentimento que nasce e que é amamentado com o maior cuidado do mundo,
Um sentimento que não acredita e que não vivencia a morte.
Meu coração é seu agora, de vocêzinho,
Que me faz sorrir a cada dia e que me faz acreditar,
Seu, meu mais lindo do mundo, meu coraçãozinho,
Mon coeur, ma vie, ma tout le monde.

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Por Raphaël Crone.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Agitação.

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Escrevo para registrar a saudade que ofusca meus olhos,
A imensa vontade de estar com você, meu coração.
Registro a falta de senso que me inebria e não me permite pensar em como prosseguir à distância.
Registro meu afeto e minha devoção.
Registro minha prece: tê-lo aqui comigo brevemente,
Registro meu pesar e minha agitação,
Minha incontinência sentimental,
Registro minha vida em suas mãos.

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Por Raphaël Crone.

sábado, 10 de janeiro de 2009

A Coisa Mais Linda do Mundo é o Sentimento.

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Você me descobriu naquele fim de noite,
Madrugada alta, insentida,
Perdido em meio à multidão ouriçada que se movia frenéticamente,
Uma movimentação vazia,
Música pulsante, coração distraído.
Tocou-me de forma ousada e eu lhe vi, uma primeira vez.
Um susto, um estranhamento, um sorriso,
Um primeiro beijo. Lábios unidos, corações recém-descobertos,
O dilúvio de sensações.

Você, tão bêbado, eu, tão absorto,
Um encontro interessantemente desnorteado.
A descoberta dos Andes, o início da colonização do meu então-tão-só-coração.
Um semana. Suficiência. Seu toque, minha total suficiência,
Incapaz de auto-sustentar-me sem o seu sorriso bobo.
Sua abnegação, seu cuidado para comigo, as noites de carinho incessante,
Você, o remédio para a minha rinite e meu desassossego.
A razão de minha espera, sua seriedade e sua espirituosidade.
Você, minha razão suficiente.

Uma breve separação, quão suficiente para me fazer sofrer!
Um inverno prematuro, o pranto no carro,
As lágrimas consoladas na alcova,
A promessa do reencontro, o acreditar.
Acredito em você: a necessidade de sua suficiência.
Minha esperança, minha urgência, minha impaciência.
Você, governador de meu dia, insuflador de ânimo,
O que molda o frágil barro, meu coração.
Sentimental, mas seu. Doado por própria vontade.
Vontade imensa, que não morre, minha vontade de você.

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Por Raphaël Crone.