terça-feira, 6 de setembro de 2016

Adentro



O problema da maioria das pessoas é que, diante dos olhos alheios, elas julgam-se com demasiada complacência. Pensam ser muito especiais e não o são. Nada, ou muito pouco, têm que as diferencie da turba. Mas, ó, mistério tão misterioso! Nem às paredes elas confessam, quando envoltas pela penumbra de sua soledade, que, de fato, são vazias e insossas e que, se tão desesperadamente tentam mostrar-se valorosas e interessantes para os outros, tudo deve-se ao imenso, supermassivo buraco negro que as engole por toda a existência. Pretendem ser rainhas e reis em seus tronos ilegítimos, mas, na verdade estão despedaçadas, sendo mastigadas por suas próprias desilusões, assim como o Cronos de Goya mastigava os seus próprios filhos em desvairada melancolia.


Tereza



De sua juventude, Tereza tinha aprendido três coisas. A primeira é que a beleza é como uma droga ilícita: gratuita por muito pouco tempo. A segunda, que deveria evitar envolver-se com pessoas comprometidas ou recentemente solteiras. A terceira coisa que aprendeu (e talvez a mais útil) foi a esboçar aquele sutil desinteresse pelas suas conquistas amorosas. Se as tratasse mal, elas não voltariam; se demonstrasse entusiasmo demais, tampouco, elas voltariam, pois julgariam-na desesperada e pronta a se apaixonar e assim se afastariam por medo de se envolver ou por se assustarem com tal possibilidade. Assim, Tereza aprendeu desde cedo, e não sem eventuais decepções, que o amor realmente é um jogo. Não de emoções, mas, puramente, de inteligência.