quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Recomeço: Volta

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E volto eu,
Arrastando-me em direção ao êxtase,
Ao frêmito das madonas, Santas Teresas, Magdalenas,
A carne trêmula, como a de Almodóvar;
Tal é a sensação, diante de mim, uma vez mais.
Suspenso no ar por fios que não se veem:
Uns movimentam punho, outros, pena,
Um mais tênue imita o pulso de um coração,
Outros, etéreos, são ventilação artificial, pulmões em expansão e remissão:
Eu de volta à essência, trêmulo, pueril, pródigo,
Após a abstinência, de volta ao básico,
Ao meu básico, ao meu êxtase,
À minha escrita anônima.
Um novo acolhimento,
Neologismos e sentimentalidades [in] coerentes;
Mais uma vez ouvirei eu mesmo falar do que há cá dentro,
Exteriorizando-me.
Eviscerando-me em sangue e letras,
Dogmas implícitos, opiniões, explicitando-me,
Tripas de conotação filosófica.
O eu da minha juventude
Pródiga, em êxtase, em volta de,
De volta a, por necessidade, por prazer, por obrigação cármica, quiçá.
Reinicio por vontade própria meu processo,
Roda do Samsara, das aparências, das vaidades abandonadas.
Violenta evisceração.

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Por Raphaël Crone.