sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dangereux.

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[ Viver é muito perigoso. ] * [ Guimarães Rosa ]
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[ Minha força está na solidão. / Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, / nem de grandes ventanias soltas, / pois eu também sou o escuro da noite. ] * [ Clarice Lispector ]



Eis que, de repente, tudo se afigura real:
A ironia da vida em me amar
E sua insistência em me abraçar
Com os braços frouxos.

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Por Raphaël Crone.

Minha Onipotência.

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[ Eu sou um caminho de cinzas,/ Queimando debaixo de seus pés./ Você é o único que caminha sobre mim/ E eu sou o seu único caminho. ] * [ Björk ]
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[ Felicidade se acha em horinhas de descuido. ] * [ Guimarães Rosa ]


Quem é assim, você pode me dizer?
Incondicional como eu? Apaixonante e apaixonado?
Quem tem um sorriso mais belo que o meu e lábios mais macios?
Quem lhe toca com as pontas dos dedos
E lhe proporciona tamanha excitação mental?
Quem tolera os seus desgostos e as suas amarguras
E continua sendo como eu sou?
Quem lhe deixa e retorna sempre,
Respeitando as suas excentricidades e os seus desatinos?
Quem lhe ama, brutal e docemente,
Como dedicado pajem e violento criminoso?
Quem é assim?
Quem faz o seu coração triunfar?
Exército de mim, o caçador.
O deus do vinho. Do sono. Dos profundos oceanos.
Quem é como eu?
Que chora a sua partida e aguarda o seu improvável retorno,
Esperançoso e sem deixar de sorrir?
Você sente isso em mim?
Incondicionalidade? Motivação?
Exagerado zelo, cuidado dilacerante?
Pois bem, saiba,
Apenas eu sou assim por você.
No pouco e no muito, na bonança e na miséria,
Exageradamente seu.
Enveneno-me com seu amor a cada dia,
Apenas para não morrer sentindo a sua falta.
Apenas para viver, desta forma, sem respirar.

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Por Raphaël Crone.

Goldfrapp Cantaria.

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[ O uísque é o melhor amigo do homem. / É o cachorro engarrafado. ] * [ Vinícius de Morais ]



Você e sua ironia,
Eu e meu copo semi-vazio,
Uma dupla peculiar.
Quando me enrosco em seu pescoço
E respiro a sua pele acetinada,
Sinto a sua frialdade mórbida.
Nada como o meu calor alcoólico para lhe aquecer.
Fatalmente,
Uma dupla peculiar.

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Por Raphaël Crone.

Efemérides.

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[ Você tem olhos que me conduzem/ E um corpo que me mostra a morte;/ Seus lábios parecem que foram feitos pra algo mais,/ Mas eles apenas sugam minha respiração./ Eu quero a sua dor para saborear
o porquê de você estar envergonhado./ Eu sei que você não é apenas o que me diz/ E eu não sou o único momento do qual você é feito./ Você é tão súbito e doce,/ Todas as pernas, articulações, joelhos./ Cabeça fundida limpa, sua boca é paga./ Me foda até sabermos que é não é mais seguro/ E então nós passaremos por cima das evidências. ] * [ Marilyn Manson ]


Sob a chuva quente de verão,
Sentado sob uma árvore imponente,
Eu vejo os raios riscarem o céu como flechas incandescentes.
Eu olho para cima, vejo as folhas gotejantes.
Penso por um minuto,
Lanço os olhos em torno do enorme descampado à minha frente
E me deito na grama molhada, sem camisa.
Se eu tiver alguma sorte,
Quem sabe hoje.
Quem sabe.

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Por Raphaël Crone.

Uma Recordação Minha.

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[ Se deus fulmina os erros da ternura,/ Uma lágrima só lhe apaga o raio. ] * [ Manuel du Bocage ]
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[ Mas alguém me disse que você ainda me ama,/ Será isto possível? ] * [ Carla Bruni ]


Como Julianne Moore em "As Horas",
Chorei quando lhe dei as costas naquela rodoviária,
Após um abraço terno e um sussurro terno
E não olhei pra trás quando você subiu naquele ônibus velho.
Chorei durante todo o caminho pra casa,
4 da tarde, ruas cheias;
Resolvi tomar um banho longo
E mal via que o sabonete dissolvia-se por ação da água que teimava em cair do chuveiro,
Enquanto eu, convulsivamente, chorava deitado no chão do banheiro.

Chorei a sua partida, com uma dor tão vívida
Que me sentia faltar o ar, era difícil respirar.
Chorei a sua partida,
Chorei a parte de mim que ia contigo,
Mas a parte de vocêzinho que ficou comigo, então, me consolou.
Me consolaram Maria Callas e Edith Piaf,
Borges, Drexler, Camille,
Fui consolado pela torrente violenta que banhava meu coração de lembranças,
E que me fazia enxergar-lhe em toda parte;
Fui consolado por "Non, je ne regrette rien".

Apenas um menino lindo", palavras suas;
De fato você me faz sentir um menino lindo,
Como é linda a homenagem que a Carla Bruni me faz através do seu amor;
Amor, enquanto nós bebíamos e conversavámos naquele bar da praça matriz de cidade do interior,
Amor, denunciado por nossos beijos nas ruelas escuras,
Amor em francês, em espanhol,
Amor latino-americano.
Amor, enquanto eu lhe assistia dissertar na faculdade
E você me assistia lecionar, após a chuva;
Amor, em tardes quentes e companheiras;
Amor, enquanto faxinávamos a casa,
Enquanto aprendíamos a lavar roupa,
Enquanto conversávamos à toa na janela da vizinha.

Amor, enquanto você deitava no meu colo naquela pracinha
E nós chorávamos como crianças,
Apenas por causa desse tal de amor,
Que justifica todas as dores e prazeres de nossas existências;
Amor, em madrugadas longas,
Enquanto acompanhavámos um ao outro de volta pra casa,
Amor musical e poético,
Amor sentimental.
Amor, como o que a Adélia Prado tem pelo Zé e seu fusquinha,
Amor camarada e bom,
Amor amável;
"Te amo, homi", a Adélia dizia pro Zé; e eu lhe amo.
Mesmo sabendo que sem você, este lugar é como Londres,
Chove todos os dias
E que eu sou apenas metade de um corpo, sem o seu abraço.

Amor, que sabe que semana que vem a gente está junto de novo,
E que toda a choradeira foi porque eu não queria ficar nem um dia sem lhe ver;
Amor, que eu enxerguei no fundo dos seus olhos,
Amor mais amplo que palavras,
Amor romântico e revolucionário,
De mãos dadas na praça;
Amor, que me faz esquecer de mim mesmo,
Apenas pra lhe ver feliz, como você me faz feliz,
Amor acordado, amor dormindo, amor de todo quanto é jeito;
A Julieta tem mesmo razão, lhe quero com limão e sal,
Lhe quero falante ou não, lhe quero e lhe tenho
E você me tem também,
Um menino que chora na rodoviária e que lhe ama cada momento mais;
Que adotou a bermuda que você lhe deu como um uniforme,
E que alegremente espera por você,
Como Penélope esperava por Ulisses naquela praia.

[ Minha mãe cozinhava exatamente: arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas cantava. ]


Sou eu quem lhe agradece, amor.
Ton garçon, qui t'aime beaucoup et toujours.
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Por Raphaël Crone.