quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Um Menino

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Ele passava do outro lado da calçada, distraído,
Pleno ocaso, 6 da tarde matando o sol,
Mas aquele momento foi luminoso como a aurora,
Um minuto de arrebatamentos e clichês romântico-sexuais.
Um minuto de deslumbramentos.
Ele passava ali, cabelos escuros, meio longos, voando ao sabor do vento,
Olhos escuros e matreiros, que fingiam a ninguém e a nada perceber.
Passava ali, menino da cidade, jovem imberbe,
Seguro da sua capacidade de encantar, pretensiosamente despretensioso,
Frivolidades,
E aquele rosto alvo e bem feito me pareceu a trombeta de uma salvação fulgaz, porém absoluta.
Corpo magro, esguio, alongado em comprimento e sabores,
Convidativo e insolente,
Temperamental.
Camisa aberta ao peito, bermuda jeans desbotada, all-star nos pés,
Uma pulseira e um pingente,
Urbanidades.

Aquela visão chegou a mim como um fogo abrasador,
Fazendo com que minhas veias e minha pele a reclamasse,
Como ópio, como heroína, como um filme noir,
Um produto tóxico e uma volúpia suprema;
Um desejo de possessão e entranhamento,
Obstinadamente sexual, como a noite que se espalha e se contrai contra as paredes do mundo,
Num movimento rítmico e sensual,
Fazendo florescer os vícios escuros, saturados por jovial tédio e perpétua insaciedade.
E aquele menino veio e se foi, como uma visão de rua,
Se dissipando como uma sombra, me deixando sem saber se ele era ele ou eu mesmo,
Que me enxergava num passado pálido,
Evocando um futuro de estarrecedora poesia, feita de pele, músculos e saliva,
Fluidos e fumaça e cigarros que caíam.
Hype. Underground pleasuresE um menino que se foi,
Assim como eu.

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Por Raphaël Crone

Paradoxos, Parte 21

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[ E eu estou tão triste/ Como um bom livro/ Eu não posso deixar este dia para trás,/ Uma espécie de conto de fadas/ Com você... ] * [ Tori Amos ]



Um dia na eternidade, onde os segundos se movem esquivos,
Como milênios inequívocos de regozijo:
É assim que eu me sinto quando estou contigo.
E, ao mesmo tempo, experimento eras fulgazes, efêmeras,
Marcadas por horas que passam depressa, como que correndo do tempo,
Regadas a tempestades de melancolia e expectativa.

Quando estou contigo, me movo rápido e ao mesmo tempo lentamente,
Espalho, me espalho entre os sons da sua risada que dobram como sinos solenes
E entre a lisura da sua pele e o teu aroma que me transporta.
Transfiguro-me em relógio e me acompanho, te acompanho,
Vendo o tempo que passa, e que se expande e se contrai à tua presença;
Uma presença que me arrebata e ainda assim, me mantém preso ao chão.
Serenatas. Voluptuosidades. Paradoxos sentimentais.


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Por Raphaël Crone