quarta-feira, 9 de março de 2016

Rendição



3 da madrugada, hora morta. A hora morta.
Eu, sentado no quarto escuro; a gata silenciosa, sentada no parapeito da janela.
Fumaça de cigarros rodopiando pelo ar dormente, em minha mente um "não" ressoa:
Uma palavra de violência, um grito de guerra que despedaça todos os armistícios previamente planejados.
Pensar no sentimento que eu lhe tinha é pele derretendo sobre carne, é carne se rompendo sobre ossos, são ossos secos estalando sob pés descalços.
Notre grand amour est mort.

Um jogo perverso de se esconder, um homem que caminha pelos labirintos da casa - oculto.
Aparas de unhas, fios de cabelo pelo caminho. Eu me escondendo, não de você,
De mim mesmo. Gotas vermelhas, de vinho ou de sangue, que diferença? Ya me da igual... 
Só sabe de amores quem sabe o que é martírio, só sabe de amores quem entende a diferença entre vírgulas e ponto-e-vírgulas.
Pensar em você é um mundo em chamas. Pensar em você é como aquele som de cello, dramático, irresoluto: um lamento que corta o ar e, repentinamente, adormece...

Como os parágrafos deste poema pagão. Exaustos, reticentes, como que morrendo;
Ao se encurtarem, sangram e são podados e desmaiam... E sobram os "es".

(Suspiro, arquejo. 
Et voilà).
...