sábado, 14 de fevereiro de 2009

Os Anos.

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[ E você é como um Jesus dos anos 90,/ Você curte suas psicoses;/ Como você se atreve?/ E você experimenta conceitos como quem escolhe canapés,/ E você come suas dúvidas como sobremesa;/ E é só eu que acho ou está quente aqui?/ Bom, pode ser que você nunca seja ou tenha um marido,/ Pode ser que nunca tenha ou segure um filho.../ Somos acordos temporários. ] * [ Alanis Morissette ]

[ Sou eu, estranhamente noturno. ]

O meu restrato de criança na parede do quarto.
Tomei-o entre as mãos. 4h57 da manhã.
Não sei bem exatamente por quê, mas,
Entre uma página e outra d'O Físico de Noah Gordon,
Chorei sobre este meu retrato infantil.
Duas amargas lágrimas molharam o papel.
Pensei que viriam outras mais, mas não.
Foram apenas duas lágrimas solitárias.
Contemplei a foto por mais um instante.
Tão eu ainda! O mesmo cabelo, apenas mais escuro agora,
A mesma expressão, quase 20 anos depois.
Guardei o retrato. Nostalgias. Existencialidades.

Um suspiro, um pensamento dissonante, uma conformação.
E O Físico continuou então contando-me sua história.
Sua longa trajetória. Medievalidades.

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Por Raphaël Crone.

A Ti, Padre.

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[ Lento em minha sombra, com a mão exploro/ Meus invisíveis traços. ] * [ Jorge Luis Borges ]
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[ Voy a curarte el alma en duelo,/ Voy a dejarte como nuevo/ Y todo va a pasar ./ Pronto verás el sol brillar,/ Tú más que nadie merecer ser feliz . ] * [ Shakira ]


[ A ti padrezito, mi corazón.
Tus ensenãnzas, tu honestidad.
Mi desesperado deseo de ser joven, de ser gente.
Tu monotonía, tu melancolia en el caer de la tarde,
Sueños que fueran tan brancos...
La forma como aprendi a volar, seguro por tus viejas manos,
Un rato de libertad. La inmortalidad de tus sonrisas,
Tus preocupaciones, la lucha por mi pan nuestro de cada dia.
Mio y tuyo. Nuestro. Nuestra sencilla felicidad.
Mamá, papá y yo, infante. Ella, tu y yo, hecho hombre.
Todo el Yo, mi reflejo en tus pelos tan blancos ahora.
A ti, padrezito. Mi amor, el beso que te doy,
Mi siempre terna reminiscencia.


La profundidad de tuyo océano particular, mayor que yo, tan pequeño.
A ti, padrezito, mi corazón. ]



***

O cheiro do café que você prepara de manhãzinha,
O acordar tão cedo, o admirar do canto dos pássaros...
Simplicidades arrebatadoras.
A invasão de todos os meus sentidos por sua voz tão terna,
Outrora tão rígida e imperiosa,
O afago de meu-seu ego. Id e superego, onde você habita em mim, papai.
As dores e o cansaço da velhice,
Uma vida de trabalho, o suor e as lágrimas por mim, para que eu fosse criança.
Os esforços incessantes para que eu fosse jovem.
As dores e privações para que eu fosse homem feito.
Minha tão-chamada ingratidão, imperfeitíssmo que sou.
Nem José Dias definiria-me melhor.
Meu tão constante desejo de lhe agradar! Eu sou você.
O formato de minhas mãos e de meus pés.
Os nós dos meus dedos, nós que somos tão iguais! Genética.
O orgulho que eu guardo e que você sopra em mim,
Um coração valente. O beijo e as lágrimas que honram sua encanecida fronte,
Meu presente, meu desejo: ver-lhe um sorriso mais a cada dia,
A razão de minhas tentativas, a frustração e o êxito de minha juventude efêmera.
A você, papai, o pouco que sou, o muito que você me tornou.
Meu amor e meu sorriso mais doce. A você.
A você, papai, meu coração.
A criança, o jovem e o homem. Infinita aceitação.

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Por Raphaël Crone.