domingo, 3 de abril de 2016

Hollywood Depois da Meia-Noite



A pressão das suas mãos contra as minhas costas nuas, aquele arquejo: eu me sentia transportado para Hollywood.
Um convite à insensatez, ao desregramento, à demolição completa, a me ajoelhar perante os altares vacilantes do ego.
"Eu te vejo", era só o que eu podia ouvir do seu balbuciar em meu ouvido, que parecia eterno, mesmo durando o tempo de uma batida de coração.
Palmeiras silenciosas, céu sempre azul, avenidas abertas; suas unhas vermelhas quebrando-se contra a minha pele, lábios escarlates.
Eu me desfazia em todo aquele blues, era consumido pela chama de cada jazz que tocava em cada esquina mal iluminada por um neon prestes a se apagar.
Álcool, fumaça de cigarros, onde o ilícito sobejava e onde eu aspirava pelo ilegal. Você me dizia que deveria ser ilegal despedaçar assim o coração de uma mulher.
Cabelos louro-platinados a la Jean Harlow, Golden Age, golden tragedies. Eu costumava gostar disso.
Sirenes cortando a madrugada morta de LA, a Mulholland Drive tão sinuosa quanto as curvas dos seus quadris.
Minha Joan Crawford, minha Bette Davis, minha Lauren Bacall. Meu paraíso e minha sombra que se esgotava por entre as noites dissolutas e faiscantes.
Like my body? Want some money? Wanna play? Want a vi-per? Dentes à mostra, mostre-me mais. Mostre-me o seu sangue, essa torrente escarlate que manchou tantas banheiras aleatórias.
Dissolva-me nesse abraço eterno, que dura uma batida de coração. Deslumbre-me com todas as cores que a sua escuridão pode forjar.
Beba de mim e viva para sempre - as estrelas não envelhecem, ¿verdad?
Viveremos de devastação e luzes brilhantes enquanto você ainda puder me enxergar. Por um breve instante imemorial. Enquanto nós ainda formos bem-vindos em Hollywood.