sábado, 22 de novembro de 2008

Uma Questão de Tempo.

[ Ama-me, é tempo ainda. ] * [ Hilda Hilst ]



A eternidade não pode ser vista como algo que vai chegar,
Na verdade ela já nos acompanha há muito tempo.
Cada dia que passa é um dia a menos que temos para desfrutá-la.
É um dia a menos de conversas corriqueiras com amigos,
Um dia a menos de beijos e abraços apaixonados,
Um dia a menos de dores e abandonos.
Um dia a menos para se fazer o que já deveria ter sido feito antes.
Por isso, ama. Ainda é tempo.

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Por Raphaël Crone.

Sonatina.


[ Entre./ Você teve dificuldade em dormir,/ Pois a lua pesada estava me mantendo acordada./ E tudo o que sei é que estou feliz em vê-lo outra vez. ] * [ Norah Jones ]



Eu lhe trarei rosas.
Em meu piano dedilharei a mais doce sonata ao luar.
Claire de Lune.
Eu perguntarei como foi o seu dia,
Por quantas maçadas e alegria você passou.
Perguntarei o que comemoraremos a cada noite.
Eu lhe trarei meu melhor sorriso.
Meu mais alvo afeto
E minha mais doce canção.

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Por Raphaël Crone.

Não Acredite No Amor.


[ Meu amor se foi./ Eu sei que será meu último beijo./ Sem a música dele,/ A melodia dos lábios dele passou./ Eu canto sozinha,/ Enquanto vejo o oceano./ Meu amor se foi,/ Nenhum navio da terra o trará para casa novamente. ] * [ Dido Armstrong ]



Quando eu a tomar em meus braços, não acredite no amor.
Nem mesmo quando eu lhe olhar no fundo dos olhos ou ler a sua alma.
Não acredite no amor, eu lhe imploro,
Mesmo quando eu lhe prometer que ele será eterno,
Não acredite no amor.
Não acredite quando eu disser que jamais lhe desprezarei,
Não acredite quando eu disser que meu coração é seu.
Não se engane pensando que eu serei o mesmo de hoje todos os dias.
Na semana que vem você será tanto para mim quanto foi mês passado, antes de lhe conhecer.
Não acredite no amor, querida.
Não acredite em nossos passeios românticos ao luar e nem no arrebatamente que me toma.
Não acredite no meu belo sorriso e no meu rosto inocente.
Não acredite em mim.
Não acredite quando eu tocar seus seios com meus lábios úmidos.
Não permita-se pensar:
"Oh, céus, esta deve ser a felicidade",
Por que não é.
Não acredite em mim, não acredite no meu amor.
Não pense que minhas mãos lhe segurarão para sempre e não planeje ter filhos comigo.
Não serei o seu consolo na velhice e nem a mão que deverá ser amparada em seu funeral.
Não serei ninguém mais para você
Além das minhas palavras falsas, proferidas em leitos falsos e por boca mentirosa.
Por isso, querida, pela verdade que resta em mim
Eu apenas lhe peço:
Não, não acredite no amor.

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Por Raphaël Crone.

Misericórdia.


[ Nós nos degladiamos/ No jardim da beleza,/ Cavando sepulturas em vez de plantar./ Piedade pelos crucificados./ Uma justiça amarga,/ Implorando eternamente por amor./ Não somos nada/ E somos tudo./ Não sou nada/ E ainda sou todo mundo./ Não somos nada/ E ainda somos./ O conhecimento ilumina a estrada da vida./ Eu conheço você. ] * [ Alanis Morissette ]



Piedade pelos crucificados. Misericórdia.
Mercy.
Favor. Graça. Mercê.
Tende piedade de nós.
No alto de vossa glória, tende piedade de nós.
A cidade está em chamas.
Misericórdia. Vede!
A Lua é cega e as estrelas mudas.
Eu, cego, surdo e mudo.
Compaixão. Clemência de nós, pobres almas errantes.
Misericórdia pelo abatido e pelo faminto.
Pelo desprezado, pelo moribundo.
Pelo louco e pelo são.
Misericórdia por vós, néscios sóbrios.
Em meu pleito, é tudo o que eu peço.
Misericórdia pelos corações.
Queimai-os de uma vez, dai-lhes morte rápida.
Misericórdia pelo oprimido.
Estancai-lhe o sangue ou abri-lhe com os dedos o restante da ferida.
Não mais meio-termo.
Eu conheço a dor. Ela é cruel.
Misericórdia, eu peço.
Apagai a luz, o arrebol chegou.

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Por Raphaël Crone.

Inconstância.

Se todo animal inspira ternura,
o que houve, então, com os homens?
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(Guimarães Rosa)


"Definitivamente eu não o compreendo, Raphaël.

Eu compreendi o seu pai e a sua tia,
Mas a você, eu nunca consegui compreender."
Palavras da minha avó.
Nem eu me compreendo, sendo sincero.
Alguém aí arrisca um palpite?
Compreensão pode ser para os simples. E quem não é simples?
Pode ser complexo, e complexidade rima com humanidade.
Um processo de compreender outrem pode ser muito dispendioso.
Pode ser eterno
E a eternidade não nos é garantida.

Eu gostaria de me compreender um pouco mais, de qualquer forma.
Saber porque estou tão bem e logo depois tão mal.
Porque amo e odeio com intensidades tão desmesuradas.
Porque vivo em tamanha dubiedade moral.
E ao mesmo tempo, desisto de prescrutar tais questões profanas.
Gosto-me assim, complicado, egocêntrico, neurótico e imperfeito.
Perfeição é para os fracos.
E onde está a minha força?
Eis o que eu me pergunto, em seguida, então.

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Por Raphaël Crone.

Último Beijo.

Danny está sozinho, porque Mary está na Índia agora.
Ela disse que ligaria, mas já se passaram 3 semanas.
Ela deixou todas as suas coisas arrumadas, seus livros e as cartas dele
E como se o Sol se pusesse para o Danny, ele nasce para ela.

Danny não está comendo, ele está bebendo e dormindo muito.
Eu o vi numa festa na última noite, ele está definitivamente magro.
Ele disse que está feliz, parecia realmente bonito,
Mas eu acho que como se o Sol nascesse para Mary, ele se pôs para ele.

Danny veio me ver na última noite e eu cozinhei para ele.
Nós falamos sobre você, Mary, e como nós a amamos ainda.
Ele me disse que empacotou as suas coisas, seus livros e as cartas dele para você
E como se o Sol se pusesse para você, ele nasceu para ele.

E nós dançamos e nós bebemos
E eu vi algumas coisas que provavelmente você nunca teve a oportunidade de ver.
Não se preocupe, Mary,
Eu estou tomando conta do Danny
E ele está tomando conta de mim.
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(Dido Armstrong)


O fim de um amor não precisa ser trágico.
Ele apenas deve acontecer.
Sem excentricidades. Sem reviravoltas.
De preferência, sem palavras.
Quanto mais mudo, melhor.
Cada um deve resolver-se consigo próprio.
Quanto mais se tenta explicar, mais egoísmo se torna explícito.
Mais decepcionante se torna o processo
E mais ilusões são desfeitas,
Inclusive as mais ternas e intocadas.
O desamor, assim como o amor não precisa ser justificado.
Apenas entendido.
É o bastante.

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Por Raphaël Crone.

Dormindo Com Fantasmas.

Está bem.
Seque seus olhos,
Alma gêmea, seque seus olhos.
Alma gêmea, seque seus olhos,
Porque almas gêmeas nunca morrem.
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(Placebo)


À mon garçon Raphaël, que m'a fait sourir.
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(M. de Sousa)


Passando pela rua 26, eu julguei vê-lo por um momento.
Tirei o papel do bolso do casaco:
"À mon garçon Raphaël, que m'a fait sourir."
Não era você. Olhei para baixo um instante.
Isso me fez sorrir do mesmo jeito.

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Por Raphaël Crone.

A Graça em Ser Um Garotinho do Século 21.

O que você faz quando sabe
que alguma coisa é ruim pra você,
E ainda assim não consegue deixá-la de lado?

Eu era inocente,
Seu amor era como doce.
Artificialmente suave,
Eu fui iludida com a embalagem.

Estive presa em sua teia
E aprendi como sangrar,
Eu fui presa em sua cama
E devorada completamente.
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(Christina Aguilera)


Eu sou uma garota má, bêbada às 6,
Beijando os lábios de qualquer estranho por aí;
Já fumei muitos cigarros hoje,
Não sou feliz quando ajo dessa maneira.
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(Madonna)


Eu lhe quero pelos motivos mais egoístas.
Apenas para dizer aos outros que você é minha.
Apenas para tocar seu corpo nu e me perder em meio às suas curvas, Anna.
Quero mergulhar em sua alva tez e depois mandar-lhe embora,
Como uma prostituta suja.
Quero, por que você sabe que eu não sou legal.
Eu sei, você sabe, tudo bem.

Eu quero segurar o seu pescoço e apertá-lo, até você ficar meio roxa,
Cianótica.
Sei que, instintivamente, vou sentir as suas unhas cravando-se em minhas costas.
Ooh lala, nem Goldfrapp faria melhor.
Eu quero tê-la em meu momento de maior desespero,
Na hora mais escura da noite.
Quando os soluços tornam-se mais incontroláveis.

Essa é a maior graça da minha vida,
A razão pela qual existo.
A maior graça em ser um garotinho do século 21.
Seu brinquedo e seu algoz.
Vejo você chegar, tímida e inocente,
Você se deita por sobre meu abdôme, abraça-me e sussurra obscenidades em meus ouvidos.
Eu aliso os seus longos cabelos loiros e beijo-lhe.
Você me martiriza, (oh, céus!)
Sadomasoquismo é para iniciantes, Anna, ma chère!
Faça-me sangrar um pouco mais.
Abuse de mim, eu já disse que gosto disso,
Você sabe que pode.

E então, quando tudo acabar, dê uma olhadinha para o meu rosto.
Quantos anos você acha que eu tenho?
19, 20? 23.
Tanta devassidão em dois corpos tão jovens!
Eu lhe amo, Anna, mas tenho que pedir:
Por favor, morra.
Daniel Johns já havia pedido por isso.
Ouça, em algum lugar Badarczewska ecoa,
Algum piano melancólico soluça a "Prière de Une Vierge" noite afora.
Vamos mergulhar juntos, nús, em alguma praia rochosa.
Vamos brincar de Samara e Anna Morgan.
Vamos recomeçar. Você e eu.
Você sabe, seria divertido.

Te encontro na Durkheim's, às 9.

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Por Raphaël Crone.

Futilidades.

Você parece tão cansado e infeliz!
Bote abaixo o governo,
Eles não, eles não falam por nós.
Eu vou levar uma vida tranqüila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono.

Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas,
Sem alarmes e sem surpresas.
Silencioso silêncio.
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(Radiohead)


Não há razão para se alarmar.
Absolutamente.
Quanta tolice cometemos em nome de coisas banais, céus!
Amor, guerra, orgulho e preconceito,
Tudo é tão efêmero, tão injustificável!
Por que morrer, se a vida continua?
Por que lutar, se ninguém mais luta por nós?
Por que comer, se tudo é pó e pó se tornará?
Por que se desesperar?

Vejo o seu rosto, agora, Daniel. Surpreso?
Por que tão surpreso?
Não me reconhece, pois? Não sou eu o mesmo de antes?
Não desisti de lutar, oh, não!
Não seja ingênuo!
Apenas luto com menos impetuosidade,
Apenas caminho mais devagar...
Para não perder um dos braços nessa luta insana
E para gastar menos os pés,
Para poder correr um dia ainda,
Quando houver algum sentido para isso, enfim.

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Por Raphaël Crone.

Um Momento de Elegância.

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
_________
(Raimundo Corrêa)


Lève toi c'est décidé,
Laisse-moi te remplacer,
Je vais prendre ta douleur.

Doucement sans faire de bruit,
Comme on réveille la pluie,
Je vais prendre ta douleur.
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(Camille Dalmais)

Toque-me, mais profundamente,
Alcance a razão do meu afeto, mais, mais!
Você pode fazer isso, eu sei.
Alcance a razão do meu afeto,
Vá até onde ninguém mais foi antes,
Desbrave-me, maravilhe-se!
Maravilhe-se com as minhas delícias ocultas
E com minhas tristezas não-confidenciadas.
Toque o que há de mais esplendoroso em mim,
Arranque, sim, arranque outro pedacinho de mim, meu amor!
Leve-o, leve-o!
Não há de me fazer tanta falta, eu penso.
Tome a minha dor, saboreie a minha carne,
É vermelha e úmida, assim como a carne do gado.
Verte sangue,
Força da vida, você há de conseguir alguma vantagem bebendo o meu sangue.
Minha beleza? Minha inteligência? Meus versos?
Ou apenas a minha dor.
Ma douleur.
Venha, tome a minha dor, também.
É tão mais elegante. Engula-a com champagne.
É tão mais elegante!

_____
Por Raphaël Crone.