sábado, 22 de novembro de 2008

Um Momento de Elegância.

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
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(Raimundo Corrêa)


Lève toi c'est décidé,
Laisse-moi te remplacer,
Je vais prendre ta douleur.

Doucement sans faire de bruit,
Comme on réveille la pluie,
Je vais prendre ta douleur.
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(Camille Dalmais)

Toque-me, mais profundamente,
Alcance a razão do meu afeto, mais, mais!
Você pode fazer isso, eu sei.
Alcance a razão do meu afeto,
Vá até onde ninguém mais foi antes,
Desbrave-me, maravilhe-se!
Maravilhe-se com as minhas delícias ocultas
E com minhas tristezas não-confidenciadas.
Toque o que há de mais esplendoroso em mim,
Arranque, sim, arranque outro pedacinho de mim, meu amor!
Leve-o, leve-o!
Não há de me fazer tanta falta, eu penso.
Tome a minha dor, saboreie a minha carne,
É vermelha e úmida, assim como a carne do gado.
Verte sangue,
Força da vida, você há de conseguir alguma vantagem bebendo o meu sangue.
Minha beleza? Minha inteligência? Meus versos?
Ou apenas a minha dor.
Ma douleur.
Venha, tome a minha dor, também.
É tão mais elegante. Engula-a com champagne.
É tão mais elegante!

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Por Raphaël Crone.

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