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[ Se não vivessemos perigosamente,/ tremendo à beira dos precipícios,/ não estaríamos nunca deprimidos,/estou segura disto,/ mas seríamos cinzentos, fatalistas e velhos. ] * [ Virginia Woolf ]
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[ Vivemos as nossa vidas,/ fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos:/ é tão simples e tão normal como isso./ Alguns atiram-se de janelas,/ ou afogam-se, ou tomam comprimidos;/ um número maior morre por acidente,/ e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou,/ com muita sorte, pelo próprio tempo./ Há apenas uma consolação:/ uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem,/ contra todas as probabilidades e expectativas,/ abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginávamos,/ embora todos, excepto as crianças (e talvez até elas),/ saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras,/ muito mais negras e mais difíceis./ Mesmo assim, adoramos a cidade, a manhã,/ mesmo assim desejamos, acima de tudo, mais. ] * [ Michael Cunningham ]
Às vezes, sinto necessidade de estar triste,
Assim como as outras pessoas têm necessidade de morrer.
Tudo às vezes.
Às vezes, o silêncio e a instrospecção doentia lavam-me por dentro,
Preparam-me para continuar a plantar,
Ou pelo menos, escondem-me dos meus bichos-papões,
Dos monstros do meu armário, carregam-me para um mundo particular, um mundo obscenamente irreal e maravilhoso
E me permitem dormir em paz por um minuto.
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Por Raphaël Crone.