sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Não Enviado.

Prezado Terrance, eu te amo muito.
Você não tem sido nada além de um coração aberto,
emocionalmente útil, encorajador e educativo.
E esteve lá de maneira total para mim.
Eu continuava te atraindo e te afastando pra longe.
Eu me lembro como foi lindo adormecer no seu sofá.
E chorar na sua frente pela primeira vez.
Você foi a melhor plataforma da qual pulei para além de mim mesma.
O que havia de errado comigo?
_____________
(Alanis Morissette)


Ouvi o seu sussurro aquela noite,
dizendo que me amava.
Ouvi a sua voz e a sua emoção.
A sua preocupação, zelo, cuidado e paixão.
Ouvi a sua verdade.
Ouvi, mais tarde, o seu basta e o seu adeus, incredulamente.
Ouvi minhas lágrimas rolarem.
Seu paraíso, não para mim.
Agora ouço a mim novamente. Mais uma vez.
E meu eu lhe agradece por salvar o melhor de nós.
Por salvar o amor amigo,
Por continuar a salvar-me de mim mesmo,
de todas as formas e em mais novas posições.
Por me permitir ser eu de novo,
Por amar-me de novo.
Por deixar-me ir e ainda assim, por manter-me mais que nunca preso em seu mais apertado abraço.

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Por Raphaël Crone.

Les Heures.

On me dit que nos vies ne valent pas grand chose,
Elles passent en un instant comme fanent les roses.
On me dit que le temps qui glisse est un salaud,
Que de nos chagrins il s'en fait des manteaux.

Pourtant quelqu'un m'a dit
Que tu m'aimais encore,
C'est quelqu'un qui m'a dit que tu m'aimais encore.
Serais ce possible alors ?
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(Carla Bruni)


E quando eu fecho os meus olhos eu não consigo mais lhe ver.
Será possível, então?

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Por Raphaël Crone.

Le Fey.

Em vida, chamaram-me de muitas coisas:
irmã, amante, sacerdotisa, maga, rainha...
Na verdade, cheguei agora a ser maga,
e poderá vir um tempo em que tais coisas devam ser conhecidas.
Verdadeiramente, porém, creio que os cristãos dirão a última palavra.
O mundo das fadas afasta-se cada vez mais daquele em que Cristo predomina.
Nada tenho contra o Cristo, apenas contra seus sacerdotes,
que chamam a Grande Deusa de demônio e negam seu poder no mundo.
Alegam, que no máximo, esse seu poder foi o de Satã.
Ou vestem-na com o manto azul da Senhora de Nazaré -
que realmente foi poderosa, ao seu modo -,
que dizem, foi sempre virgem.

Mas o que pode uma virgem saber das mágoas e labutas da humanidade?
E agora que o mundo está mudado, e Artur - meu irmão, meu amante,
rei que foi rei e que será - está morto
(o povo diz que ele dorme) na Ilha Sagrada de Avalon,
e preciso contar as coisas antes que os sacerdotes do
Cristo Branco espalhem por toda parte seus santos e suas lendas.
Pois, como disse, o próprio mundo mudou.
Houve um tempo em que um viajante,
se tivesse disposição e conhecesse apenas uns poucos segredos,
poderia levar sua barca para fora, penetrar no mar do Verão
e chegar não a Glastonbury dos monges, mas a ilha sagrada de Avalon;
isso porque, em tal época, os portões entre os mundos vagavam com as brumas,
e estavam abertos, um após o outro, ao capricho e ao desejo do viajante.
Esse é o grande segredo, conhecido de todos os homens cultos de nossa época:
pelo pensamento criamos o mundo que nos cerca, novo a cada dia.
E agora os padres, acreditando que isso interfere no poder do seu deus,
que criou o mundo de uma vez por todas, para ser imutável,
fecharam os portões (que nunca foram portões, exceto na mente dos homens),
e os caminhos só levam á ilha dos padres,
que eles protegeram com o som dos sinos de suas igrejas,
afastando todos os pensamentos de um outro mundo que vivia nas trevas.
Na verdade, dizem eles se aquele mundo algum dia existiu,
era propriedade de Satã, e a porta do inferno, senão o próprio inferno.
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(Marion Zimmer Bradley)



Mas o que pode uma virgem saber das mágoas e labutas da humanidade?
Poderia ela conhecer a dor do parto e o frêmito do gozo?
A fome de um filho e o desespero de amantes se distanciando?
Poderia ela saber do amor que enternece o coração dos homens, assim como o vinho no inverno?
Poderia ela conhecer o medo e a tristeza da morte e a dor da separação?

Não como nós.
O que poderia uma virgem saber das mágoas e labutas da humanidade?

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Por Raphaël Crone.

Inocência.

Sob um céu de inocência
Nos banhamos na sedução.
Linda.
A luz está se revelando agora,
Abrimos nossos braços para ela.

Quando fico quieta posso ouvir.
Você fala claramente.

"-Pai, você pode me ajudar?
O oceano é grande
E meu barco é pequeno."

"-Encontre a coragem."
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(Alanis Morissette)


Liberte-me, mostre-me que existe algo em que acreditar.
Em Buda, em Cristo, em Daghda, em Alá,
Ou apenas em mim, amparado-me na longa caminhada para fora do Samsara.
Guie-me para fora do mundo das ilusões.
Deliver me, deliver me.

Ajude-me a acreditar. Eu quero crer.
Eu quero crer em mim. Meu barco é pequeno e o mar é grande.
Ajude-me a suportar os remos e as andanças.
Ajude-me a ser bom para mim mesmo.
A não me desamar. A não me diminuir.
Ajude-me a acreditar, a amar.

Mas antes de tudo a amar a mim mesmo.
O reflexo do deus e da deusa.
O motivo da Iluminação do mundo.

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Por Raphaël Crone.

Uma Fogueira Para Beltane.

Erotica, romance.
Meu nome é Dita,
Serei sua anfitriã essa noite.
Eu gostaria de colocar você em transe.

Se eu pegar você pelas costas
Entrarei em sua mente.
Quando você menos esperar,
Quando você tentar rejeitar,
Se eu estiver explosiva,
Vou tratá-lo como uma criança.
Você irá à loucura.
Deixe minha boca ir onde ela quer
.

Erotic, erotic.
Ponha suas mãos por todo o meu corpo.
____________
(Madonna)


Toque minha pele jovem com seus lábios,
Deixe-me sentir sua língua por sobre minha tez nua, sem um pêlo.
Em cada arrepio, em cada sussurro, deixe-me vivenciar o segredo mais profundo da existência.
Leve-me, leve-me, apresse-se em conduzir-me para onde a vida começa.
Deixe-me entender o mistério que uniu meu pai e minha mãe em um ato sagrado e profano,
A santa e o pecador, o deus e a meretriz.

Caminhe com sua língua por sobre meus mamilos intumescidos,
Toque meu abdome e abrace-me violentamente. Enrole-se em torno de mim e erga-me voluptuosamente.
Mostre-me por onde devo ir.
Erotica. Ponha as suas mãos por todo o meu corpo.
Eu quero estar onde toda a vida começa.
Mostre-me o caminho. Eu sou um menino mau.
Seja indulgente, ensine-me, adestre-me.
Apenas deixe-me estar onde toda a vida começa.
Onde deus se revela ao homem.
Onde o homem pode ser deus.

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Por Raphaël Crone.

Lamento Juvenil.

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."
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(Florbela Espanca)


O amor é paciente, é benigno.
Não se irrita, não arde em ciúmes, não suspeita mal.
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(I Coríntios 13)

I'm starting to believe
that should be illegal to deceive
a woman's heart.
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(Shakira)


Aprendei de boa forma, jovem, o que vos digo,
Eu que também jovem sou e que tenho pouca experiência diante da vida:
Amai os pensamentos e não os corpos,
Ou não digais palavra a alguém.

Evita fazer juras infundadas assim como evita o crime,
Porque crime é enganar o coração de outrem.
Hediondo crime, que resulta em mágoa,
Tristeza, pesar e nunca em virtude ou bem.

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Por Raphaël Crone.

Seu Éden.

Eu nunca procurei ser o seu Éden.
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(Sarah Brightman)


Não acreditei no amor dos homens, ele é ingrato.
Enganoso e mentiroso. Acreditai no vosso amor. Amor-próprio.
Self.
Vosso primeiro, último e único verdadeiro amor.
O resto, deixai que o diabo cuide deles.

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Por Raphaël Crone.

Ópera Citadina.

Um homem com uma dor
é muito mais elegante;
caminha assim de lado,
como se chegasse atrasado,
andasse mais adiante.
Carrega o peso da dor
como se portasse medalhas,
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha.
Ópios édens analgésicos,
Não me toquem nessa dor;
ela é tudo que me sobra,
sofrer, vai ser minha última obra.
_____________
(Paulo Leminsky)

Às vezes eu dirijo bem rápido, apenas para me sentir em perigo.
Eu quero gritar, isso faz eu me sentir mais vivo.

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Por Raphaël Crone.

Adélia Prado: Para o Zé.

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabê-lo.
_____________
(Carlos Drummond de Andrade)


Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe - os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo homem, amo,
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua arma. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
"Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vaguando atrás dos rebanhos de teus companheiros".
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Am o até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

_____
Por Adélia Prado.

Apenas Vocêzinho e Eu.

Eu estive tão bem, eu estive tão mal,
Alto, lá nos céus, baixo, na terra.
Eu estava tão cego, eu não podia enxergar
Que o seu paraíso não era para mim.
____________
(Madonna)


Naquela escada tudo terminou. Dias de certeza.
Finito est.
Recomeçando, fingindo estar tudo bem até tudo estar bem, de verdade.
Engraçado, as coisas estão se desvanescendo bem mais rapidamente do que eu supunha.
Mas ainda me lembro de nós.
Daquele colchonete no chão e da Bebe cantando.
Ainda te quero com limão e sal.
Mas tudo está passando tão depressa, as estações mudando.
Nossos beijos doces, suas mordidas, meus gemidos.
Tanto amor!
Finito est?
E eu me alegro, sim, acredite.

Por seu olhar doce que reapareceu, pelo fim do temor.
Pelo compromisso descompromissado.
Pelo amor fraterno, pela preocupação.
Por tudo que foi e é novamente.
Por tudo. Por sermos assim como nós somos.
Not as we.

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Por Raphaël Crone.

Considerações Levianas.

E eu chorei por você
no chão da cozinha.
____________
(Amy Winehouse)


Amor dramático. Amor sentimental. Amor amável.
Amor que pede retorno, bem ao estilo dona de casa dos anos 70.
Amor que se preocupa.
O nosso foi assim um dia e hoje não é mais nada.
Nem sei se amizade.
Tantas restrições, tanta cautela.
Quem diria.

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Por Raphaël Crone.

Flagelação.

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
____________
(Clarice Lispector)


Se existe uma verdade na vida é a que devemos ser felizes por nós mesmos.
As promessas de eternidade existem, mas no fim, tudo o que sobra é a própria eternidade. Por isso, nada do que vemos, ouvimos ou pensamos perdurará. Nenhuma jura secreta ou pública. Nenhum arrebatamento. Aqui mora a sabedoria da velhice.

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Por Raphaël Crone.

Querido R. Crone,

Quanto tempo pode um garoto estar acorrentado a você?
Quanto tempo pode um garoto ser torturado por você?
Logo eu vou me levantar
e não vou mais estar relutante ante o seu nome.
___________
(Alanis Morissette)


Eu sou o Narciso do lago.
Sou a vidade em forma de gente:
Cabelos, pescoço, tronco e pés.
Face e olhos.
Boca lasciva. Eu lhe concedo um beijo.
Aceite.
Eu sou o Narciso do lago, sou o orgulho ferido.
Sou o encanto e o desencanto.
Sou o desejo e a saciedade.
Sou a fome ameaçadora. Sou a dúvida e a vontade.
Eu sou o Narciso do lago.
Afogar-me-ei em minha imagem,
doce dádiva.
Caírei dentro de mim e serei um comigo.
Um com aquele que nunca pude compreender, um dia.

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Por Raphaël Crone.

Victória.

Amigos são a família que a vida
nos permitiu escolher.
________________
(William Shakespeare)


Ela me suporta. Ouve atentamente quando canto e aplaude. Ela acaricia o meu ego e não pede nada em troca. Ela me abraça e me segura quietamente. Ela me leva ao cinema quando me vê chorando na praça. Ela não se importa que eu fume perto dela. Ela é incondicional. Ela deixa de ser ela para ser eu, se assim é necessário. Definitivamente, não há outra igual.

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Por Raphaël Crone.

Tudo Sobre Minha Mãe.

Minha mãe cozinhava exatamente:
arroz, feijão, molho de batatinhas.
Mas cantava.
____________
(Adélia Prado)


A que me pariu abandonou-me, logo que nasci.
A mãe do meu pai me criou, então.
Incumbiu-se de tolerar os desgostos que eu daria
E de viver as minhas alegrias.

Realmente não sei o que dizer sobre minha mãe.
70 e tantos anos, baixinha, marcada por manchas de envelhecimento.
Sem muita instrução, mas sábia o bastante para ter me feito quem sou.
Trabalhadora. Incansável. Honesta.
O seu sorriso me vale o dia.
E sei que, no fim, de tudo, quando todos me deixarem,
ela estará lá por mim.

Minha mãe não é poetisa ou eloquente.
Mal sabe escrever.
Mas assim como a mãe da Adélia, ela canta.
E o seu canto ecoa dentro de mim todo o tempo.
Ele toca as cordas do meu coração.
E eu aprendo o que é amor, então.

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Por Raphaël Crone.

Juventude Sônica.

Se a infância estivesse aqui,
mas está como que enterrada.
Talvez seja preciso envelhecer
para poder alcançar todas essas coisas.
Acho que deve ser bom envelhecer.
______________
(Rainer Maria Rilke)

Eu corro.
Corro contra o tempo, corro contra as marcas de expressão.
Ainda que minha face seja tenra e meu corpo, jovem e esbelto.
Ainda que meus braços sejam fortes e minhas pernas firmes.
Eu corro.
Running away, mer boy.
Eu deveria ter medo da senilidade, mas não tenho.
Ou não admito ter.
Quando minha cabeça encanecida estiver eu deixarei de correr.
A juventude ter-se-á ido e não me obrigará a correr mais.
Caminharei então,
a espera do além-vida.
Relutante ou confiante, não sei.
Mas Cerridwen receber-me-á em seu consolo.
E eu consolado estarei da carreira
Que minha juventude me obriga a correr.
Frenética. Incansável.
Insaciável.

Não correrei mais, então.
e como os meus avós, que um dia também correram,
Apenas caminharei então.

_____
Por Raphaël Crone.

Entre As Minhas Pernas.

Lie to me, abuse me.
__________
(Daniel Johns).

Um grito: parto, expulsão, liberdade.
Deliverance.
Parteje-me. Minta para mim.
Abuse de mim.
Eu acho que gosto disso.

_____
Por Raphaël Crone.

Um Ato Profano.

E Deus há de julgar os vivos e os mortos.
___________
(Apocalipse de João)


Lubrifico-lhe com lidocaína,
Fria, viscosa, formal.
Peço-lhe que relaxe e respire profundamente.
Com um dedo, verifico se o orifício é permeável e inicio então, de uma vez, o ato de penetração. É profano, indecente.
Entre náuseas e movimentos convulsos,
entre frêmitos de agonia, você pede para que eu pare.
A cânula fria e impessoal atravessa a sua garganta,
Orofaringe, como eu prefiro dizer.
Em seus momentos de lucidez, lampejos,
Você pede que eu pare.
Não posso parar, eu penso.
Salvo-lhe a vida, suja e insentida.
Chego até o seu âmago, estômago,
Depósito ácido.
Inicio o processo de lavagem.
Carvão ativado, sucção.
Secreções esverdeadas e lágrimas.
Náuseas, sangramento nasal devido ao calibre da cânula.
Eu trago-lhe aos braços da vida uma vez mais,
ainda que você quisesse escapar dela.
É preciso encarar a vida de frente, Leonard.
Pelo menos, entender o que ela espera de você,
para depois então descartá-la.
Diazepans são para os tolos.
Um pneumotórax poderia ser mais eficiente.
Simplicidade é a alma do negócio.

_____
Por Raphaël Crone.

Noites da Arábia.

Viagem, viagem,
Imensidão a imensidão.
Eu viajei de longe,
O vento suave do Nadq
Trouxe um perfume de Araar.
Esplendor de mil sóis brilharam, glória no meu caminho.
Nenhum amor mais puro ou raiva mais feroz
Poderiam vingar em meu coração que batia.
Viagem, viagem...
________________
(Sarah Brightman)


Precisamos de política e moral,
Ainda que nossos filhos sejam, naturalmente, a cada dia mais amorais.
Precisamos de compreensão,
Ainda que não sejamos compreendidos por ninguém e
nem desejemos compreender muita coisa.
Precisamos de sonhos,
Que tanjam as cordas de um lira para nos adormecer no deserto
e que nos impulsionem durante a cavalgada diurna por sobre os camelos taciturnos.
Precisamos de utopia. De medo. De terror.
Precisamos da angústia e da tristeza da solidão e da morte
para que escrevamos belas palavras,
em legado moral aos nossos filhos amorais.
Precisamos mergulhar no ventre de Sodoma,
Para que de lá resgatemos o velho Sade agonizante.
Precisamos de salvação perdida e relutante.
De agonia e morte.
De coragem.
Deslumbramento. Orgulho, preconceito e salvação.
Precisamos de redenção.
Redeemer. Redeemer.
Veja, a sua camisa está molhada por minhas lágrimas.
As lágrimas do medo da solidão, do medo da escuridão.
As mesmas lágrimas que tangem as cordas de minha lira.
As mesmas que me fazem escrever belas palavras
Em legado aos meus futuros filhos,
Temerosos e amorais,
filhos de meu amoral legado.

_____
Por Raphaël Crone.

Paradigmas Shakespearianos.

Mas que luz é aquela que brilha
ali na janela?
A janela é o Oriente e Julieta é o Sol.

Sobe, belo astro, sobe e mata de inveja a pálida Lua.
______________
(William Shakespeare)

E você entende que beijos não são contratos
e que palavras não são promessas.
______________
(William Shakespeare)



Gostaria de entender de amor como Shakespeare,
Ou seja, quase nada.
Quase alguma coisa como quem muito viveu
E nada como quem nunca se preocupou em entender o que ultrapassa o entendimento.

Eis-la, apresentando-se: a sabedoria.

_____
Por Raphaël Crone.

Permissividade .

De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem que me oprima a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.
_________________
(Adélia Prado)


Não deixei de amá-lo.
Amo-o. Odeio-o às vezes.


Mas no fim ainda perdoo.
E como dizia a Adélia,
Realmente, mais que perdoo,
Amo.

_____
Por Raphaël Crone.

A Canção de Penélope.

Agora que a hora chegou,
Logo o dia ter-se-á ido.
Lá na distante praia
Você irá me ouvir dizer:

Tão longo quanto o dia no verão,
Tão profundo como o escuro mar,
Eu guardarei seu coração comigo
Até que você venha a mim.
_________________
(Loreena McKennitt)



Esperança.
Ato e por que não, efeito, de esperar.
O vindouro, o incerto, o deus.
A certeza das coisas que não se veem, ora.
O deus.

A deusa. A virtude. A perseverança.
Quem me garante?
Nas areias daquela distante praia eu ouvi Penélope chamar por Odisseu.
E nesta desolada existência eu repito, também,
Embalado pela esperança, por que não, virtuosa:

Tão longo quanto o dia no verão,
Tão escuro quanto o profundo mar,
Eu guardarei o seu coração comigo,
Até que novamente você venha a mim.

_____
Por Raphaël Crone.