domingo, 31 de outubro de 2010

Ebulições

e vc-
Eu gosto do que sujo, do que é áspero, mordaz,
Do que morde e envenena.
Gosto do que pulsa, do que bate, atroz,
Do que martela em ondas de insuportável anunciação.
Gosto do que queima, do que fere,
Do que arde e do que faísca.
Eu gosto dos que ardem.
Eu gosto do inverno, dos flocos setentrionais,
Pálidos e gélidos
E gosto do verão, trópicos em chamas,
Cidades vermelhas, terras vermelhas,
Sóis fumegantes e incandescentes.
Eu gosto do que é inóspito, do que desafia a existência
E ainda assim existe,
Do que é selvagem, selvático, primitivo e carnal,
Mas não gosto do insípido, do incolor, do que não se vê, não se cheira, não se sente...
Eu gosto do sentimento, feelings entorpecidos e inebriados,
Aguçados com o calor do perigo e da espreita.
Eu gosto de adrenalina, sistema simpático, luta e fuga,
Eu gosto dos cheiros fortes, dos sabores inusitados,
Benzeno, metano, clorofórmio...
Eu gosto do que desafia a existência, mas que ainda assim é ultrapassado por ela,
Eu gosto da arte em gestos,
Da corrida, do embate.
Gosto das noites nas alcovas e nos becos,
Das palavras sob custódia e das deliberações silenciosamente reveladoras.
Roupas que caem, peles que se abrem...
Eu gosto do rush do tempo, a corrida da luz e do som,
Eu gosto dos gozos, vigílias cevadas em perdição...
Dos que queimam, dos que se debatem,
Dos que se derretem, dos que se refazem, dos que ardem...
Fogos de artifício, ebulições, o big bang existencial.

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Por Raphaël Crone

Um comentário:

André disse...

Tiras vivenciadas de vida! Admiro-as.