domingo, 31 de março de 2013

Aqui Comigo



[ Your body was tan and your hair was long/ You showed me your smile and my cares were gone./ Falling in love I filled my soul with frights,/ You said "come on, baby, it'll be alright..."/ Cause there's another world we're living in tonight... ] * [ The Killers ]



Eu passeava com você noite adentro e noite afora,
Te levava pela mão enquanto passávamos por entre os becos,
Por entre os parques adormecidos,
Por baixo das pontes observadoras e impronunciáveis.
Você não dizia palavra e assim eu gostava,
Pois nos comunicávamos por simples olhares, pensava eu.
Não havia som, mas havia uma verborragia telepática,
Tanto que muitas vezes eu nem conseguia entender tudo o que me era dito.
Quando você se cansava de caminhar, eu te carregava,
Acendia os seus cigarros e acariciava os seus cabelos longos e luminosos.
Nunca víamos nenhuma outra viv'alma por perto,
Éramos sempre você e eu e assim eu gostava,
Pois ninguém mais era necessário em nosso universo particular.
Seu vestido branco revelava as formas esguias dos seus seios e da sua cintura
E eu sorria, vestido de preto, chapéu e sobretudo, sua mão na minha.
Eu me vestia de você, da etérea juventude que a rodeava
E você se vestia com a minha pálida melancolia,
Onde sorrisos eram breves e olhares inflamavam-se em efêmera combustão.
As árvores nuas passavam por nós e a lua boiava no céu,
Envolta pudicamente por nuvens escuras, como Cristo na cruz
Foi envolto, para que sua vergonha não se mostrasse à multidão.
Nosso amor era silencioso e tranquilo, macio como a bruma,
Nebuloso como o algodão e doce como um beijo que desperta.
Passavámos pelas estradinhas mortas e por ali seguíamos,
Colhia uma florzinha que crescia à beira do caminho e com ela adornava seus longos cabelos claros.
O cenário agreste era convidativo e a estrada desdobrava-se serena,
Minha mão na sua mão, minutos de euforia contida.
Seguimos e conseguimos chegar até o fim da estrada, mas quando olhei para trás
Não te vi mais ali. Onde estava sua mão agora?
E a flor do seu rosto e a flor dos seus cabelos e o aroma do seu perfume?
Desfez-se a fantasmagoria e eu entendi: acendi um outro cigarro,
Abaixei a cabeça e prossegui, sem a sua mão na minha mão,
Mas seu sorriso cá dentro afastando meus temores,
Certo de que a sua lembrança se materializaria uma vez mais quando a noite fosse alta,
Aqui comigo, vestida em minha abrasadora melancolia...


___
Por Raphaël Crone

Nenhum comentário: