Ele é como um carro em chamas, correndo
freneticamente por uma estrada vazia e escura. Uma pira incandescente e rubra,
como uma vida que foge da extinção.
Belos
olhos, cabelos e barba negros, pele pálida. Corpo esguio, pronto para ser
despedaçado e atirado aos cães, para depois recompor-se, qual estúpida chama de
um desejo bruxuleante.
Sua
risada é como o prenúncio de um trovão distante, que estremece a noite, dela se
alimenta e, logo, desaparece. Ele é gracioso e excêntrico,com um quê de misterioso, convicto e encarcerado nas
entranhas de uma pilha de carbono melancólica.
Tudo o que existe em seu interior é
negror e névoa; tudo o que ele é deve ser evitado. De suas veias, escorre
veneno rubro e viscoso, que mancha o chão sob os seus sapatos empoeirados.
A ilusão de sua presença é
um convite para conhecer o verdadeiro deus, para tocar a sua face efêmera e,
então, chorar de alegria nas profundezas do seu amor.
Ele alimenta-se de
juventude, haja vista que os anos para ele passam, ainda que mais lentos que o
usual. Ele é feroz e impaciente, agressivo e impiedoso. Não se compadece com
lágrimas e nem com súplicas. Ele é a última curva antes do amanhecer, envolta
entre a fumaça dos seus cigarros, afugentada pelos seus dentes à mostra.
Ele é formoso, mas obscuro
e instável como uma sonata de Bach. Bem farias em fugir dele, humano incauto.
Apesar de humano ele também ser, ele é sombra e pó. Ferrugem e osso. Um último
gemido e o silêncio. Não mais que um estranho sonho e a derradeira quimera,
afinal.
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