domingo, 15 de fevereiro de 2009

Missa de Domingo.

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[ “Todos os deuses são um deus”, disse ela, então como já dissera muitas vezes antes, e como eu repeti para as minhas noviças inúmeras vezes, e como toda sacerdotisa, depois de mim, há de dizer novamente, “e todas as deusas são uma deusa, e há apenas um iniciador. E cada homem a sua verdade, e Deus com ela”. ] * [ Marion Zimmer Bradley ]



Não costumo frequentar as missas.
Não sou católico e nem mesmo sou cristão.
Mas como é sabido desde que o mundo é mundo
E onde há sabedoria se sabe,
Deus é Deus onde quer que estejamos
Independente do nome pelo qual o nomeamos
E a Mãe é sempre a Mãe, seja ela chamada de Maria ou Cibele.
Morando em uma cidade pequena, próxima a uma grande e antiga catedral,
Gosto de ir à missa de vez em quando.
Isso de certa forma sacia uma voz dentro de mim.
É estranho ver como um culto aparentemente morto,
Cheio de repetições e pessoas perdidas
No momento de entoar os cânticos e recitar os versos
Sem saber quando devem se sentar ou levantar,
Pode falar à alma, quando se busca ouvir com atenção o que ele sussurra.
O Pai é o Pai e a Mãe é a Mãe e eles habitam em corações, não em templos humanos.
Eles são maiores que nossa engenharia. E ainda assim, onde o invocamos, eles estão.
Se os deuses são invenção humana ou se nós somos invenções deles,
Não me preocupa muito saber.
Acima de tudo, a figura do que é Mistério representa a esperança.
É muito triste para nós vivermos sem esperança.
A vida deve ser fria e o amanhã, solitário.
Algo em que acreditar pode ser um consolo, mesmo para mim que, como quase todo mundo, às vezes não acredito em nada.
Coisas da vida. Uma nova existencialidade, discussão dos séculos.
A religião, sim, em meu conceito pode ser um erro. Os deuses não.
O que eles respresentam não: a caridade, o amparo, a amizade e o amor.
Coisas que precisamos ontem e precisaremos amanhã.
O mundo cai: cabe a nós sustentá-lo com nossos braços,
Como os titãs sustentavam a Terra nos tempos ancestrais.
Mas, onde está a força dos nossos braços, Mãe?
O mar é grande e meu barco, pequeno. Mostre-me a esperança.
Descerre-me o véu além do Samhain e ornamente-me com as flores da primavera.
Imbolc e Ostara. O calor, as fogueiras: Beltane.
O arrebol: Litha e as colheitas, o pão de Lugh. Lughnassad. Mabon, a cornucópia.
E Samhain, que tudo recomeça, de onde viemos e para onde vamos.
O incenso e os sinos, a batina dos padres e suas danações e salvações.
As irmãs que queimaram por mim.
Não há ressentimento, apenas há a oração do menino.
Ele está em todos os corações e Ela responde por todos os nomes.
É neles que me apóio. Um consolo que encontro quando a noite vai alta
E quando tudo está escuro, quando o amanhacer ainda vai longe.
Existencialidades, novamente. Palavras da salvação.
O Senhor está no meio de nós e a Senhora com ele.
E onde eles estão, em segurança estou também,
Filho e menino que sou da esperançosa magia que é acreditar no que não se vê
E aguardar. Respostas. Um ato de contrição.
Requiescat in pace. O réquiem de cordas. O final e o recomeço.
A Lua vai subindo e seguindo sua rota. E está em meu coração.
Pensamentos ao som da música melancólica e do piano frio.
O cheiro da fumaça. Uma vida e outras muitas não lembradas.
Muitas recordações e eu, ainda aqui, sentado.
Muitas vidas em uma noite de domingo.

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Por Raphaël Crone.

3 comentários:

Anônimo disse...

Que todos ouçam o que a sua missa se domingo ensina!

Raphaël disse...

Reflexões . Verdades não-absolutas . Me fazem bem .

Anônimo disse...

hahahaha...

se forem estas "verdades", sim!

^^