domingo, 15 de março de 2009

Antes de Sonhar.

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[ Havia um muro alto entre nossas casas./ Difícil de mandar recado para ela./ Não havia e-mail./ O pai era uma onça./ A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão/ E pinchava a pedra no quintal da casa dela./ Se a namorada respondesse pela mesma pedra/ Era uma glória!/ Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira/ E então era agonia./ No tempo do onça era assim. ] * [ Manoel de Barros ]


Quando a noite cai, não é só o escuro que aflora.
Aflora o medo do que é inominável e o palor da sombra.
Pálida, ainda que negra. Pálida em essência.
A face da donzela que bóia no céu, brilhante,
Espanta o menino que cá embaixo tenta adormecer.
Medos infundados. Fundações estremecidas.
Bichos-papões.
O armário sempre meticulosamente cerrado.
As janelas de vidraças grossas. O barulho da coruja na árvore lá fora.
Cretina!
Mas acima e abaixo de tudo, me vem o medo do eu-sozinho.
O entendimento de que você dorme sozinho e eu também.
O medo da saudade que no meio da noite me faz despertar.
Sim, medo da saudade, porque ela é o bicho-papão de quem já cresceu e ainda é menino.
Penso em como lhe comunicar minha lembrança eterna de você.
Penso em passar pela sua casa no meio da madrugada,
Penso em telepatia e encantamentos.
Uma mensagem do celular pode resolver. Escrevo e envio.
Imagino você lendo e sorrindo, em meio à noite do seu quarto.
Sorrio cá também e deixo de ter medo. Sou homem, ora.
Durmo e esqueço corujas, saudades e bichos-papões.
Resolvo e pronto: fecho os olhos e vou sonhar com você.

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Por Raphaël Crone.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eternidades[2]...

Raphaël disse...

2 - deux . Aussi amour .

Raphaël disse...

J'aime encore . Eternidades, realmente .