domingo, 15 de março de 2009

O Fio da Memória: Infância, Vol. I

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[ Oh! que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida,/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores,/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras,/ Debaixo dos laranjais! ] * [ Casimiro de Abreu ]

[ Vamos, não chores./ A infância está perdida./ A mocidade está perdida./ Mas a vida não se perdeu./ O primeiro amor passou./ O segundo amor passou./ O terceiro amor passou./ Mas o coração continua./ Perdeste o melhor amigo./ Não tentaste qualquer viagem./ Não possuis carro, navio, terra./ Mas tens um cão./ Algumas palavras duras, em voz mansa, te golpearam./ Nunca, nunca cicatrizam./ Mas, e o humour?/ A injustiça não se resolve./ À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido./ Mas virão outros./ Tudo somado, devias precipitar-te, de vez, nas águas./ Estás nu na areia, no vento.../ Dorme, meu filho. ] * [ Carlos Drummond de Andrade ]


Eu observava a cidade do alto do prédio.
9 anos e 19 andares.
Elevadores e escadarias. Acessos restritos.
Via algumas raras árvores e não raros telhados sujos.
Tons pastéis suspensos no ar.
Desejava saber o que existia lá embaixo.
O submundo sobre o asfalto. Sadia curiosidade de menino.
Desejei por três dias.
No quarto esperei a faxineira ir embora e procurei a chave da porta.
Desci. Dobrei a esquina
E continuei dobrando outras mais. Empolgação!
Ua avenida grande abriu-se à minha frente.
Um viaduto, alguns mendigos. Carros, carros e carros.
Eita, São Paulo! Paulo Santo, eis que olho para você novamente.
Observei tudo e me sentei em frente a um quiosque do McDonald's quando me cansei de observar.
A tarde ia caindo. Hora de voltar.
Mas por onde eu voltava?
Como eu tinha boca fui à Roma. Cheguei a tempo,
Dez minutos depois meu pai chegava do trabalho.
Ele nunca soube da minha aventura, quinze anos já fazem.
Travessuras de menino. Mas uma lembrança valente.

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Por Raphaël Crone.

2 comentários:

Anônimo disse...

Travesseiro!
Avesso!
Atravesso!
Travesso!

Quarto!
Regras!
Cidade!
Menino!

Raphaël disse...

Joga com as palavras como eu jogo . Utilidades de um eu-adulto falando do eu-criança-que-fui (sou) . Vai saber .