domingo, 15 de março de 2009

Ela Me Chama de Raphaëlzinho.

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[ Por que Deus permite que as mães vão-se embora?/ Mãe não tem limite, é tempo sem hora,/ luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba,/veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento./ Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio./ Mãe, na sua graça, é eternidade./ Por que Deus se lembra- mistério profundo -/ de tirá-la um dia?/ Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei:/ Mãe não morre nunca,/ mãe ficará sempre junto de seu filho e ele,/ velho embora, será pequenino feito grão de milho. ] * [ Carlos Drummond de Andrade ]


Mamãe prepara a comida que eu gosto de comer.
A carne bem magrinha, purê de batata e doce para depois.
Mamãe na verdade é minha avó.
Quando ela era jovem, ela trabalhava na fazenda com o meu avô
E meu pai e minha tia ficavam na cidade, com parentes.
Ela cruzava rios tocando a boiada, plantava e colhia
E ainda costurava para fora.
Hoje, ela tem muitos problemas de saúde, mas ainda é bem forte.
Ela me trata como nunca pode tratar os filhos que saíram da barriga dela.
Ela me ama como eu nunca imaginei que alguém pudesse amar.
Ela tira da boca dela para me dar, se for preciso.
De vez em quando, sinto um nó na garganta
E daí eu abraço ela. Ela me abraça. Um silêncio.
Vejo a marca no seio que ela retirou por causa de um câncer
E a coragem com a qual ainda hoje ela enfrenta a vida.
Ela é linda. Ela é honesta e íntegra. Ela é fascinantemente simples.
E ainda assim, o lugar que ela tem em mim ninguém jamais poderá ocupar.
Nem mesmo eu. Uma ocupação vitalícia em mim.

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Por Raphaël Crone.

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