segunda-feira, 1 de abril de 2013

Abissais, n°. 2



[ Veja as pirâmides ao longo do Nilo,/ Veja o sol nascer numa ilha nos trópicos,/ Apenas se lembre, querida, todo o tempo você pertence a mim,/ Veja o mercado no velho Algiers,/ Me mande fotografias e alguns souvenirs,/ Apenas se lembre quando um sonho surgir: você pertence a mim./ Eu vou estar tão sozinho sem você,/ Talvez você esteja solitária também e triste.../ Voe sobre o oceano em um avião prateado,/ Veja a selva molhada pela chuva,/ Apenas se lembre: até você estar em casa, novamente, você pertence a mim...  ] * [ Carla Bruni ]



Caminhando, caminhando pela noite, sem tochas e nem velas
Você me procura e você me encontra
Contemplando o oceano, violão às costas,
Místico garoto.
Então você diz que me pertence, que temeridade!
Eu fui seu amor, eu fui seu torpor, eu fui sua orgia,
Mas hoje não há pertencimento verdadeiro,
Não há doação perene, há apenas temporária cessão:
Superficialidades.

O oceano nos contempla, plácido e intimidador.
Profundo.
Você o fustiga com uma pedra: impassível ele segue.
O aroma dos seus cabelos sussurra ao vento obscenidades
E elas não são capazes de me dizer palavra que me importe.
Você diz novamente que me pertence
E eu mais uma vez digo que é bobagem,
Não há entrega permanente, há um aluguel sentimental,
Novas superficialidades.

Mergulho, com violão às costas e você ficando para trás.
Acordes aquáticos, noturnos, salgados e misteriosos
E vou mais fundo ao meu encontro:
Mais abaixo, mais adentro, tornando-me abissal,
Como abissais são as nascentes da vida e os fins para onde ela se dirige;
Nascentes que evisceram-se em todas as nuances do ego.
Não te vejo mais na superfície e prossigo: meu mundo ainda submerso
E agora muito mais que isso: abissal...

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Por Raphaël Crone

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