segunda-feira, 1 de abril de 2013

Quando Hoje Abri Meus Olhos



Já se passaram muitos anos, mas hoje acordei e me lembrei de você.
Olhei para a estante e lá vi aquele livro que você me deu enquanto aguardávamos a sua apresentação na universidade,
"Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", de Rainer Maria Rilke.
Lembro-me bem de quando você o pôs em minhas mãos e abrindo a primeira página ainda vejo lá a sua dedicatória:
"à mon garçon Raphaël, qui m'a fait sourir..."
E embaixo do título ainda continuou: "mô, eu acho que escrevi errado, mas você me faz sorrir de qualquer jeito!"

...

Lembro-me de quando fui visitá-lo, das horas dentro de um ônibus
E da pavorosa estrada sem asfalto, viagem onde os segundos eram horas venturosas regadas pela expectativa de você.
Você me esperando na rodoviária, nossos almoços risonhos,
O furor que nos abrasava em qualquer lugar: escadas, becos, adrenalinas rompendo a lei.
Lembro-me dos nossos silêncios, lembro-me dos nossos ciúmes,
Lembro-me das discussões com os olhos e dos reatamentos com as bocas.
Lembro-me de nossa juventude sônica.
Sorrisos espontaneamente dissipados pela corrente do tempo atroz...

O fato é que não te fiz sorrir para sempre e os dias foram céleres.
Abro o guarda-roupas e lá encontro aquela bermuda cáqui que era sua
E abro o armário da cozinha e lá encontro aquela caneca verde de porcelana.
Muitas lembranças...
Lembranças que hoje não me causam nenhuma dor, apenas muita nostalgia.
O passar dos anos e das horas, inexoráveis.
Sorrisos e promessas que, conforme Shakespeare já advertira antes, jamais puderam ser mais que tênues promessas de eternidade...

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Por Raphaël Crone

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