segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Para Que Serve o Amor.

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[ Olhos que fazem baixar os meus,/ Um riso que se perde em sua boca,/ Aí está o retrato sem retoque
do Homem a quem eu pertenço./ Quando ele me toma em seus braços,/ Ele me fala baixinho./ Eu vejo a vida cor-de-rosa. ] * [ Edith Piaf ]


A quoi ça sert l'amour?
A Edith costumava perguntar isso, em dueto,
Incessantemente.
Para que serve o amor?
Me perguntaram um dia, também.
Sinceramente, até hoje não sei bem responder.
Só sei que ele me faz sorrir, ainda que não haja motivo.
Ele me faz cantar melodias tolas,
Como se elas fossem a mais magistral ópera de Wagner.
Ele me faz acordar e dormir pensando, alegremente,
Nas alegrias e delícias de uma vida incompreendida até então.
Ele retira o ranço do meu semblante e me adoça o rosto.
Me faz ser indulgente e paciente com os erros,
Me torna suportável e, quem diria, até engraçado.
Para isso serve o amor, eu penso.
E também serve para mostrar a frágil humanidade que me habita,
Para me fazer afogar em lágrimas quando o vejo partir,
Para me sentar em um banco de praça em tarde nublada,
Lendo Virginia e Silvia, desejando a felicidade delas,
Ainda que elas tenham sido mais infelizes que eu.
Para ser banhado pela chuva que cai, como uma estátua lúgubre.
Para me mostrar os bares e tavernas,
O fundo dos copos de brandy.
A minha cama vazia,
Minha lembrança alvoroçada.
Uma dor pungente e aguda. Dilacerante.
E ainda assim, com o arrastar dos dias,
Este mesmo amor ingrato
Mostra a mim mais uma vez e sempre,
Que por mais que eu me recuse a acreditar,
A vida pode ser, sim, ainda cor-de-rosa.
Ma vie en rose.
E eu baixo meus olhos aos seus, então.
E recomeço tudo de novo.
Até que não haja fôlego de esperança em mim.
Até que tudo termine e eu descanse no regaço de um amor maior.
Para isso, eu penso, deve servir o amor.
E não posso negar,
É uma boa justificativa.

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Por Raphaël Crone.

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