segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ponto de Fuga.

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[ Nem todos os que vagam estão perdidos. ] * [ J.R.R. Tolkien ]


Quero ir para onde não haja rostos que me conheçam.
Onde não haja vozes que me exaltem ou diminuam.
Onde não haja resquício de aprovação ou conveniência.
Quero ganhar a estrada de Santiago,
Minha eterna necessidade de auto-conhecimento.
Quero sonhar um sonho místico, além de Creta,
Além de Ítaca, além das asas de Hypnos.
Quero ser amigo do rei e das belas donzelas,
Quero dividir meu leito com os valentes e as amazonas de Hipólita.
Quero corromper os impuros e sarar os doentes.
Quero estar em êxtase religioso nos templos da Índia,
Banhar-me devotamente no Ganges
E orar, ajoelhado, diante da primeira estrela da noite
Pela cura de Afrodite.
Quero deixar tudo para trás,
Levantar as mãos e rir de um riso doloroso,
Que limpa as entranhas e expulsa o mal.
Quero exorcizar a necessidade de complemento,
Inerente aos homens. Quero o self.
O enough. O bastante.
Quero viajar na calada noite, capa e capuz,
Indistinto peregrino,
Quero chegar ao fundo do mar
E não temer a absoluta escuridão que lá impera.
Quero ser o imperador e o súdito.
Aragorn e Arwen. Quero ser a rainha dos Elfos.
Quero velejar pelas Terras Imortais.
Quero esquecer a dor de ser um homem,
Quero esquecer a solitude e a solicitude.
Quero voltar ao ventre de minha mãe,
Aninhar-me em seu regaço
E derramar minha última lágrima
Quando a última aurora raiar no céu.

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Por Raphaël Crone.

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