domingo, 23 de novembro de 2008

Uma Mulher Suja.


[ Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo,/ não se transforme também em monstro./ E se tu olhares durante muito tempo para um abismo,/ o abismo também olha para dentro de ti. ] * [ Friederich Nietzsche ]



Vendi meus dentes, como a Fantine de Victor Hugo, por uma causa nobre.
Perdi os meus cabelos para a fome e para a necessidade.
Perdi a dignidade mendigando minha ração e perdi a vergonha quando senti a fome apertar.
Sou renegada, sou excluída.
Minha teto é o firmamento e minha canção pede uma moeda para soar,
Um pedaço de fazenda pobre para a vestimenta
Ou um pão duro para o estômago.
Ninguém me traz flores ou elogios,
Eu sou invisível. Eu lhe trago incômodo e pesar,
Às vezes, alguma pena;
Em minha vertigem, em minha insônia, eu apenas aguardo.
Quando você me conhecer, eu estarei aguardando.
E quando você me esquecer, aguardando ainda eu estarei.
Depois de você e depois dos outros.
Aguardarei.
Esta é a sina dos desafortunados.
Até que a vida me libere e eu possa apenas descansar.
Antes que isso aconteça,
Aguardando estarei.

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Por Raphaël Crone.

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