sexta-feira, 5 de abril de 2013

Bailero



Dançamos juntos a velha dança dos anos:
Minha mão em sua cintura, seus braços enlaçando o meu pescoço.
Sinto o aroma que se desprende dos seus cabelos longos, luminosos como a aurora cortando a noite moribunda.
Vejo sua cabecinha recostada em meu peito, seus olhos em meu paletó lúgubre,
Seu vestido rodado volita ao sabor do vento, rodopios contidos e suspiros sufocados.
Meu cigarro queima vagarosamente no canto da minha boca e o fumo cinzento que se levanta baila também ao nosso redor.
Observo a nossa célere juventude cruzar as décadas
E num futuro não-tão distante você ainda recostada junto a mim, em um amparo solidário,
Quando minhas pernas vacilarem e quando minhas mãos tremerem inábeis.
Penso no bailado dos anos, no "bailero" inexorável que nos conduz sempre adiante,
Sem chance de voltar ou refazer o que foi feito com displicência.
Penso no bailar dos anos e sorrio: não envelheço enquanto espero pelo seu amor
E os meus anos se regalam recostados aos seus, pacata valsa do nosso entardecer.

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Por Raphaël Crone

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