sexta-feira, 5 de abril de 2013

Jayne Mansfield



Os pedais daquele velho carro vermelho rugem sob os meus pés convulsos:
As árvores passam por mim e eu passo por elas em disparada,
Singrando as alamedas que levam à sua casa como se fossem oceanos de misteriosa amplidão.
O câmbio, obediente e preciso, lamenta timidamente sob minha mão:
Primeira, segunda, terceira... Jamais marcha ré.
O vento que entra pelas janelas serpenteia por meus cabelos,
Espalha papéis jogados no banco traseiro, assobia lascivamente teu nome para mim.
A pista molhada pela chuva me impulsiona em movimento de apoio:
Por um momento sinto até mesmo a direção resvalar, aquaplanagens.
Nada, porém, me faz perder o foco de alcançar você nesta noite.
Horas a fio nesta autoestrada, cada segundo que se passa um segundo mais próximo de chegar.
Me dirijo a você afoito, sem medo do tráfego e nem da escuridão:
Faróis atentos, olhos vidrados.
Me sinto como Jayne Mansfield, mas com um final feliz:
Um final nos seus braços, nos derradeiros minutos da madrugada que morre, deitado entre as estrelas dos seus olhos azuis...

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Por Raphaël Crone

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