terça-feira, 2 de abril de 2013

Drama



[ Olá? Olá? Você pode me ouvir?/ Posso ser a sua boneca de porcelana,/ Se você quiser me ver cair.../ Todos acham que eu tenho tudo,/ Mas eu não tenho nada sem você./ Todos os meus sonhos e todas as luzes/ Significam coisa alguma sem você... ] * [ Lana Del Rey ]



Permaneci em silêncio após aquela porta que você cerrou atrás de si,
Uma fina lágrima escorrendo pelo rosto,
Os olhos arregalados e um tremor me percorrendo o corpo.
Um arfar, um arquejo e uma mão levada à boca: o abandono.
Olho para o telefone que não mais irá tocar, mudo;
Olho para o nosso quarto, uma cama vazia e sem sentido agora;
Olho para a casa: bruta, insípida e doravante habitada pelo seu fantasma,
Pela memória de você.
Vou até a cozinha, lentos movimentos automáticos,
Ouço aquele rádio que tantas vezes cantou para nós dois,
Onde Frank Sinatra e Etta James faziam nossos shows particulares:
Lana Del Rey canta agora "Without You". Fina ironia dolorosa.
Um pouco de whisky puro em um copo de vidro,
Um olhar desamparado à janela de cortinas caprichosamente semi-cerradas.
Um segundo:
Eu deitado no chão da cozinha, contorcendo-me  em soluços incoercíveis,
A torrente das lágrimas arrebentando as represas dos meus olhos,
O copo quebrado e um corte não valorizado em minha mão.
Sangue e lágrimas, físicas e emocionais, o desejo de não mais ser doravante.
O drama ao qual você me empurrou, o vórtice descendente ao qual me entrego,
A incerteza do que serei ou não serei,
Arroubos sentimentais dos anos 50 em minha cozinha nesta manhã...

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Por Raphaël Crone

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